quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Já ando de mota

Já ando de mota ... estou muito mais atento! Hoje, quando vinha para a Câmara imaginei toda a gente a vir para a cidade de mota e dei comigo a pensar na discussão a que tenho assistido no MCV sobre a directiva da Comissão Europeia. Aquela que contempla a extensão da licença para conduzir motas 125 cc limitadas a 11KW a detentores de carta de automóveis ligeiros há mais de 2 anos. Do ponto de vista da qualidade de vida nas cidades parece-me que o incentivo ao uso dos veículos de duas rodas é uma medida positiva. A poluição a todos os níveis (química, física, estética/visual) provocada pelos “objectos” de lata em que nos deslocamos sozinhos,frequentemente, coloca problemas de gestão urbana insolúveis e implica consumos de energia disparatados e insustentáveis a curto prazo. A asfixia das cidades pelos automóveis é uma realidade tanto mais difícil de resolver quanto menores são os índices de desenvolvimento dos países. Orgulhosamente na cauda da Europa somos dos mais afectados por esse problema, por termos redes de transportes públicos pouco eficazes e sobretudo por termos um imaginário consumista para o qual o automóvel é um símbolo de ostentação de poder. Nesse sentido a relação com o automóvel é perversa porquanto o entendemos como uma espécie de arma de arremesso contra os fantasmas que nos atormentam e que projectamos nos outros, ou seja sublimamos as nossas frustrações através do automóvel. Na rua, no café na esplanada raramente apelidamos aqueles com que nos cruzamos de nabos, filhos desta e daquela, mas dentro daquela micro-fortaleza de lata esse é o léxico "normal". Assim se percebem as diferenças fundamentais entre o automóvel e a mota. O automóvel é o nosso "castelo", de mota somos apenas "cavaleiros andantes". Isto não significa que a mota não seja também um instrumento de poder, e que os motards primem em geral por um grande civismo nas estradas, só significa que o grau em que isso acontece é tendencialmente menor. Na minha opinião a tendência para um maior respeito pelos outros acentua-se com a experiência, com a idade e com o conhecimento das regras formais e informais da estrada.A medida preconizada pela integração desta directiva comunitária tem gerado algumas opiniões contrárias no fórum do MCV, pela alegada incapacidade dos automobilistas, com carta há mais de 2 anos, de conduzir motas (relembro 125cc até aos 11Kw). Nós, que temos carta de mota, supostamente somos mais dotados porque aprendemos a conduzir motas nas escolas de condução. Será isto verdade? Para mim é óbvio que não. Aprendemos a conduzir bicicletas, motoretas e motas, como aprendemos a conduzir carrinhos de rolamentos na nossa infância. Na escola de condução dizem-nos que para passar no exame temos que fazer "oitos" e normalmente damos uma volta de mota para nos habituarmos à máquina. Desse ponto de vista julgo que uma utomobilista, que muitas vezes já anda na sua scooter 50cc para irpara o trabalho, está mais apto para conduzir uma 125 cc do que estávamos para conduzir uma 1100cc quando tirámos a carta de mota.Esta medida pode contribuir para dignificar a imagem que muitos automobilistas têm dos motards porque eles próprios passarão a ser condutores de mota. Alguns argumentam que por detrás do movimento gerado para reclamar a integração da directiva no nosso ordenamento jurídico estão interesses dos representantes das marcas e dos concessionários. É obvio que sim, mas será que todos os outros interesses que têm a ver com a nossa qualidade de vida não se sobrepõe a esses? Para mim é evidente que sim.

A propósito do acidente narrado algures aqui no blog em 2005

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