segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

DA Nação dos Sonhos

Fui surpreendido em 2005 quando vi na net os dois protótipos que a Honda apresentava na exposição de Tokyo, a E4-01 e a DN-01. A primeira alimentou os meus sonhos de vir a ter uma scooter concebida para as grandes viagens, com um motor 1000 de 4 cilindros e com uma estética fenomenal. Por enquanto a E4-01 permanece escondida lá bem para o fundo da Terra dos Sonhos. Contudo vinda daí emerge da cadeia de produção da Honda, lá para Abril, já não protótipo, a novíssima DN-01.
O objecto de marketing central associado à mota é o conceito de transmissão: HFT (Human Friendly Transmission). Este objecto não podia ser a caixa automática das moto4, soava a peça de "tractor". De facto com origem nessas caixas esta transmissão HTF é mais parecida com uma caixa automática convencional. Nesse sentido pode-se dizer que a DN-01 é a primeira mota automática. A Yamaha FJ1300AS tem uma embraiagem automática e caixa manual de accionamento eléctrico através de um botão no punho ou em alternativa no pedal, enquanto a Burgman 650 tem um variador em que um conjunto de carretos simulam o funcionamento de uma caixa de velocidades conferindo maior ou menor tensão e curso à correia.

A designação DN (Dream Nation) parece encetar uma nova linhagem de veículos, 01 será o primeiro. Linhagem de miscigenação de formas, de conceitos e de reprodução de um mito. Emergindo da Nação dos Sonhos esta coisa só podia ter uma configuração estética e simbólica, mais que Human Friendly, eu diria de natureza Bio. A Honda induz assim a estimulação, nunca antes tão nítida, de uma relação quase sincrética entre a máquina e o homem. Claro que Harley Davidson é um estilo de vida ou não seria um produto resultante de um imaginário para o qual o American Way of Life é o elemento central de reprodução sócio-política.

Talvez motivada pela longa presença nos EUA o gigante nipónico fez várias tentativas mais ou menos tímidas, mais ou menos bem sucedidas de associar uma matriz cultural a veículos. Estão neste grupo a bem sucedida Goldwing de inspiração Americana, a Pan European, igualmente muito bem sucedida, cujo alvo Cultural europeu era a BMW, e a Pacific Coast. Esta última, inspirada na simbologia Americana, foi uma quase DN-01 no sentido da fusão de conceitos. Esta mota teve uma inserção no mercado americano muito débil. Foi um exemplo de uma configuração estética que prometia mas com conteúdos tecnológicos que desiludiram. Travão de tambor a trás, um só disco à frente, motor bicilíndrico em V alimentado por carburadores e com prestações pouco brilhantes. Elementos que aliados à ausência de sistema de som e comunicação ou ecran eléctrico (A BMW K1100LT da época já tinha) configuravam uma mota vulgar com uma estética avançada.
Pelo que já li no site da Honda e no Folheto de apresentação a DN-01 não é de todo uma nova Pacific Coast. Alia à estética arrojada de fusão entre o conceito custom, megascooter e desportiva, conteúdos tecnológicos que, não sendo de ponta, são contemporâneos para o segmento que enceta, lá longe, na Terra dos Sonhos. ABS/CBS, GPS, sistema áudio com entrada USB, painel digital com computador de bordo, aliados à caixa de velocidades, remetem esta coisa para o patamar do mito, à semelhança com a Harley Davidson.