quinta-feira, 29 de outubro de 2009

CLAREZA por Eduardo Luciano

Quando alguém nos oferece alguma coisa, manda a mais elementar regra de bom senso que ponderemos as consequências da sua aceitação.
Quando alguém nos parece propor parte do poder que legitimamente exerce, redobra a necessidade de ponderação, de avaliação dos prós e contras para aqueles que depositaram em nós o seu voto de confiança.
A participação no órgão executivo do Município por vereadores eleitos por forças políticas que não obtiveram a maioria, ainda que relativa, dos votos, com funções de gestão e responsabilidades atribuídas, pressupõe, em meu entender, a existência de um conjunto de condições e de um ambiente político que não existe na actual conjuntura.
Desde logo é desejável que exista um nível mínimo de confiança mútua entre quem obteve os votos suficientes para governar e quem não os obteve.
Quando a anunciada primeira visita aos serviços camarários dos três vereadores eleitos pela segunda força política mais votada, se torna impossível sem a companhia do Presidente ou de um dos vereadores do seu partido, estamos conversados sobre níveis mínimos de confiança mútua.
As duas forças políticas mais votadas nas últimas eleições autárquicas, e que elegeram o mesmo número de representantes no órgão executivo, têm projectos políticos diferentes e alternativos entre si.
Defendem estilos de gestão opostos, têm formas de estar na vida política que só por mero acaso podem coincidir num ou noutro ponto.
Como seria interpretado por aqueles que depositaram o seu voto num projecto de ruptura, a aceitação de pelouros que implicariam necessariamente solidariedades e compromissos com aquilo com que se pretende romper?
E quem ganhou será que estaria mesmo disponível para partilhar o poder? Que palavras devem ser tidas em conta nessa avaliação? As do discurso oficial que pede aos que não ganharam que assumam responsabilidades no executivo, ou as do discurso muito mais claro do assalariado do poder que diz exactamente o contrário e se manifesta opositor do enquadramento legal que permite essa partilha?
Como podem ver, só uma qualquer ânsia pelas migalhas do poder nos poderia levar a aceitar pelouros, numa parceria sem parceiros.
Seremos vereadores de corpo inteiro, honrando os compromissos assumidos para com quem nos elegeu. Exerceremos uma oposição firme e responsável, tendo os interesses das populações sempre presentes.
Votaremos favoravelmente e sem preconceitos todas as propostas que entendermos servir os interesses dos eborenses.
Votaremos contra e sem ceder a jogos de vitimização todas as propostas que entendermos lesivas para o interesse público.
Sou dos que entendem que é a clareza de posições e o constante prestar de contas sobre essas posições que tornam a politica numa actividade respeitável.
Foi esse compromisso que assumimos, é esse compromisso que cumpriremos.
Até para a semana
Eduardo Luciano

sexta-feira, 23 de outubro de 2009




O blogspot e o acesso condicionado à informação

A internet hoje é um espaço virtual de relações que se confundem com a vida. Construímos no ciberespaço um outro mundo, menos tutelado pelos poderes constituídos, onde se espraiam e potenciam saberes. A Web é fundamentalmente um espaço de comunicação alternativa onde se desconstroem mitos e ritos sociais (é claro que se constroem outros a uma velocidade estonteante que não permite institucionalizar nada). Se a Web em sentido lato é tudo isto, e muito mais, o surgimento da blogosfera veio potenciar ainda mais as características comunicacionais da internet e, fundamentalmente, veio democratizar ainda mais a comunicação. A blogosfera pela facilidade e pela gratuitidade atravessa todo o espectro de interesses e actividades, ou seja há milhões de blogues que se destinam a todos os fins. O “trânsito” que se estabelece com um blogue é frequentemente menor que o “trânsito” que se estabelece com um site que tenha por exemplo animações em flash. Os blogues têm menos potencialidades dessa natureza por isso os downloads e uploads que fazemos quando visitamos as páginas de um blogue são pouco “pesados”. A desinstitucionalização do processo social de comunicação de massas que acontece na Web incomoda muita gente na medida em que reforça a possibilidade de uma cidadania plena pelo acesso a fontes de informação sem limites e pela possibilidade de feedback total e em simultâneo num processo de comunicação. Também aqui, na Câmara de Évora, neste nosso microcosmo relacional, o acesso à internet livre, sujeito ao quadro legal vigente, parece ter-se constituído como um incómodo aparente e alegadamente para quem gere a rede interna. Nesse sentido foi-nos vedado o acesso aos milhões de blogues alojados no blogspot.com. Não nos vedaram o acesso aos blogues alojados no sapo, não nos vedaram o acesso aos blogues alojados no wordpress, nem nos vedaram o acesso a outros cantos da blogosfera. Esta atitude é um perfeito vexame, muito mais humilhante do que fechar o acesso à internet em horas de serviço. Essa seria uma atitude retrógrada e totalitária mas coerente. Esta parece ter como objectivo apenas não nos permitir o acesso à blogosfera eborense dado que todos, ou quase todos os blogues de Évora estão alojados no blogspot.com. Neste canto da blogosfera flui tudo, desde o contraditório em relação à opinião publicada no jornal local e demasiado tutelada pelos poderes constituídos, como o seu contrário, isto é o reforço das opiniões propagandeadas no jornal local. A liberdade individual de escolher as fontes de informação bem como o direito de réplica foi condicionada. Aqui na Câmara de Évora, no que diz respeito a comunicação, o “Free to Choose” série televisiva dos anos 80 nos EUA e best seller que suporta o paradigma liberal de direita de Milton Friedman, está apenas no horizonte de alguns.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

c'est un joli nom camarade


Hoje é dia 12 de Outubro, parece que o verão voltou fora de tempo, a temperatura subiu e o dia está bonito. É um excelente dia para superar tristezas, desilusões, desalentos, e voltar a afirmar que, como ontem, como há 6 meses, como desde sempre estamos agora mais juntos e mais solidários na luta por uma vida melhor, por uma cidade que seja um motivo de orgulho, por um Mundo mais justo, por uma sociedade que irradique de vez a exploração do homem pelo homem. Há 6 meses, no Teatro Garcia de Resende apresentávamos os 5 primeiros candidatos à Câmara e o o cabeça de lista à Assembleia Municipal. Este último, Abílio Fernandes, deu-nos desde sempre e em particular nestes 6 meses, uma lição de humildade, de solidariedade de força anímica, própria da sua imensa dimensão humana. Todos se envolveram e empenharam com tudo aquilo que tinham e que não tinham e fizeram deste percurso uma festa, divertimo-nos criámos laços, cimentámos amizades. Estava prenhe de razão Jean Ferrat ao cantar:
C'est un joli nom, camarade
C'est un joli nom, tu sais
Qui marie cerise et grenade
Aux cent fleurs du mois de mai (...)
O "tempo das cerejas" teima em perdurar, este nosso tempo de vida ainda agora aqui chegou, foi uma curta travessia de poucos meses que acreditámos ser o caminho da mudança. E é o caminho da mudança porque é o caminho que nos transporta pelo lado certo da vida. Havemos de lá chegar camaradas! Abílio emprestou-nos, sem exigir nenhum retorno, toda a sua humanidade, João Oliveira é uma força da natureza, Eduardo Luciano, figura franzina, com uma energia para lavar e durar, contagiou-nos com a verdade de uma simpatia e de uma inteligência que transcendem os limites de um quotidiano cinzento que se adivinha. Todos os outros que não nomeio tem a mesma dimensão humana, o mesmo capital de luta, e de solidariedade. Se já era motivo de orgulho ter camaradas como estes, agora sei que o caminho é mais curto porque com amigos como estes não há ventos que não prestem nem marés que não convenham. Se ontem nos pareceu que o porto estava ali, bem perto, hoje sabemos que o ontem foi apenas um ponto de partida. E agora, Camaradas, a nossa bagagem transborda de uma energia acumulada na luta, nos milhares de conversas e km percorridos no concelho, nas cumplicidades, nas novas amizades. Aqui volto a lembrar-me de Ferrat:
C'est un joli nom, camarade
C'est un joli nom, tu sais
Dans mon coeur battant la chamade
Pour qu'il revive à jamais
Se marient cerise et grenade
Aux cent fleurs du mois de mai
Esse apelo todos o sentimos no coração, agora é ainda mais forte, agora, ao fim de 8 anos de travessia no deserto sentimos o porto aqui tão perto, Vá camaradas mais um passo, já uma estrela se levanta e cada fio de vontade são dois braços e cada braço é uma alavanca!

Luís Garcia

Militante do PCP

Évora 12 de Outubro de 2009