quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Ecos do deserto

Aqui pelo Alentejo a planície limita-nos muito os horizontes, este imenso mar de trigo a ondular ao vento sufoca-nos o imaginário já amolecido pela estrutura moldável do barro. Aqui na terra dos pre-conceitos a conceptualização da vida segue a cadência do cante dos homens de tez morena, sempre rumo ao sul, onde o real e o imaginário se fundem aos quase 50 graus do sol da planície. Isto é lá boa coisa para essas modernices das motas?
Verão 2007

Noruega 2007 ou para lá do tempo do deus consumo

Numa pacata viagem, em família, à Noruega conclui que naquelas paragens a arte tem lugar na vida das pessoas, conclui ainda que ao fim de quase 30 anos vi-me novamente obrigado a recorrer ao Fast food para conseguir comer qualquer coisita (nem sempre mas ...). Em síntese estive 8 dias num país fantástico onde a confiança (entre as pessoas e do estado nos cidadãos) substitui o medo, a frugalidade, a simplicidade e a economia de meios sobrepõe-se ao consumismo, a harmonia entre o tradicional e o pós-moderno depurado dominam a estética, na arquitectura, no urbanismo, na moda e em todas as artes. A natureza, a terra, o mar, são os elementos dominantes do meio, mesmo em espaço urbano. Não há diferenças visíveis entre aqueles que vivem e trabalham no campo e aqueles que vivem nas cidades. A Noruega parece ser um país em que os sectores primário e secundário têm muito mais peso que o terciário, ou seja aquela gente produz o que come. As estradas tal como na Irlanda são parecidas às que tínhamos em Portugal antes do Cavaquismo. De facto as estradas não são elementos estruturantes do desenvolvimento. Na Noruega os transportes mais utilizados são os comboios e os barcos. Enfim este país, que se situa entre os mais desenvolvidos do mundo, não esbanja recursos, produz o que consome e exporta produtos transformados da terra e do mar. Por último as noites brancas são uma experiência indescritível. Havia de ser bonito aqui para alguns que eu conheço essa cena da noite nunca mais chegar ...

ERICEIRA 2007 com o NLVT do GWCP



Voltei ao sítio onde um homem criou, durante uma vida, o parque das suas diversões. É notável conseguir passar toda uma vida a brincar, a construir brinquedos e a partilhar com os outros essa imensa felicidade. Estou a falar do Senhor José Franco e do seu universo lúdico construído no Sobreiro. Este artista das Artes todas e também da Vida construiu uma amizade sólida com outro homem notável que passou a vida a brincar com as palavras: Jorge Amado.




Tudo isto vêm a propósito do fim-de-semana que o grupo constituinte do Núcleo de Lisboa do GWCP nos propiciou.


Eu já tinha hipotecado a tenda e toda a estrugia do campismo há muitos anos atrás e as recordações das viagens pela Europa de tenda às costas estavam bem guardadas na letargia do tempo. No entanto tenho para mim que a vida atravessa os mesmos estádios em patamares de conhecimento e emoção algo diferentes,transformados pela experiência, no fundo pela própria vida. E assim, homem prevenido vale por dois, tinha comprado um iglo minúsculo e umas placas de espuma com pouco mais de um centímetro.


Esse era o meu kit mínimo que me permitiria a sobrevivência num brusco movimento de retorno ao paradigma perdido, leia-se: campismo. Paradigma de aproximação a um estádio primeiro da relação com a terra, com o vento,com o cheiro da erva húmida com os sons da natureza. Este é um contexto de beleza primeira (não primitiva) que agora me pareceu emancipador e antes me parecia obrigatória dada a precariedade financeira para outras andanças.


Claro que sobrevieram algumas dores,nas ancas, no pescoço, mas isso é culpa minha, o kit era mínimo, já devia saber que para tudo é necessário o equipamento adequado. Conclusão: É urgente fazer um upgrade para um iglo decente uns colchões confortáveis e pronto!As memórias de todos os Encontros motivados pelas motas esfumam-se agora e nem alguns "soberbos" jantares em salões de festas são suficientes para superar o convívio, a partilha, a comunicação intensa que vivemos na Ericeira num contexto de total liberdade, ou seja sem reis nem gurus nem tutelas dos espaços formais que determinam comportamentos ritualizados.

Na Ericeira a génese do espírito de grupo gerado por estes brinquedos grandes realizou-se na plenitude. Aqui o grupo transbordou de generosidade, aqui chegámos despidos dos nossos outros papeis sociais e fomos apenas campistas motards. Aqui cultivámos mais a amizade que nos une independentemente das profissões, das formações académicas, das origens sócio económicas. Fomos umas dezenas, partilhámos quase tudo, até algumas sonoridades mais pessoais, não foi Aurélio?

Tudo isto acrescentou-me património. O financeiro não foi quase nada delapidado, com poucas dezenas de euros acampámos quatro pessoas, comuns meros 5 € a cada um partilhámos alimentos e bebidas e com mais alguns euros enriquecemos as refeições com sobremesas e entradas deliciosas.Nem tudo se converte ao dinheiro. A propósito disto um chefe de estado Africano dizia que, mais do que o PIB, era importante incentivar o desenvolvimento da Produção Interna de Felicidade. Foi nesse sentido que viemos mais enriquecidos da Ericeira

sábado, 27 de outubro de 2007

Núcleo ASA GWCP - Olhares 2

Por Paulo Henriques:
Obrigado Luís por mais um excelente encontro que tu e toda a malta de Évora, tão bem sabem realizar. Ok, Ok, o tipo de Mora que lá andava com uma BM (Aires...hehehe), também deu uma ajudinha na orientação do"comboio".Foi a minha primeira viagem a solo sem pendura com esta mota e digo-vos (alô Carlos), é uma máquina e Pêras. Haviam de ver uma scooterzeca no meio de uma quantidade enorme de super máquinas, mas ela não se envergonhou, cumpriu bem o seu papel...hehehe
A minha crónica:
Na sexta tive a feliz ideia de ligar ao Luís para saber se havia algum Winger que fosse do Algarve e em contacto com o Caniço, lá descobri que iam dois companheiros de Lagos, pelo que já não fui sozinho.O Friozinho às 7h da matina era demais para o Algarvio, mas revolvi bem a questão, eu que estou habituado a andar de bicicleta...coloquei-me na esteira da GW e apanhava os gases de escape...hehehe A viagem foi boa, tirando o facto de ter ficado uns metros para trás nas subidas, porque em Overdrive a 160....Não digam nada aos tipos do Radar. Fizemos uma paragem em Beja para beber café e atestar depósitos, e lá fomos, desta vez mais calmos, até à Motodiana. Aqui retemperamos forças com um cafézinho e uns bolinhos bem gostosos, trocamos abraços e beijos e seguimos viagem para Arraiolos. O resto o Aires já contou. Para cá vinham mais duas motas, mas como precisava de chegar cedo fiz-me à estrada sozinho e foi sempre a andar, embora tenha andado perdido dentro de S. Manços à procura de "Pitrol". A bomba que parecia fechada e que já tinha passado por ela uma vez, afinal estava aberta com a porta encostada. Macacos me mordam se não parecia aquelas àreas de serviço dos filmes Americanos, no meio do Oeste. Não se ouvia uma mosca.Depois de Portel, começou a chover... E eu: "mas que raio?" chuva no capacete com um sol destes? depressa descobri que eram mosquitos em"barda". Aproveitei para abrir o capacete e a boca para ingerir algumas proteínas extra...hahahaha (mentira) Tive que parar de novo nas Entradas, terra mítica do Megascooter, para limpar a Viseira. Daí até Olhão foi sempre a queimar.Médias marcadas: Olhão - Beja sempre a abrir com a GW e a FJR --- 7,1litros. De Beja a Évora, uns impressionantes ---- 4,9
Total da viagem ---- 5,8Obrigado ao Luís / Caniço e ao Núcleo A.S.A do GW Portugal

Paulo Henriques

Nucleo ASA GWCP - OLHARES


Por Aires Pereira


Lá se passou mais este dia estupendo na companhia solarenga do S. Pedro que teima em manter fantásticas as condições para a pratica do Mototurismo.E realmente, na companhia do sol lá rumámos a Évora para o 1º encontro e formação do núcleo de Évora do GoldWing Clube de Portugal. Quando lá cheguei, pelas 10.20 já existia uma azáfama digna de nota. 90% das motos já tinham chegado e o habitual grande parque de estacionamento da Motodiana tornou-se, subitamente escasso para tanta beleza em duas rodas. Elas reluziam ao sol, umas atrás das outras como que a competir num concurso de beleza...e realmente...cada uma mais bela que a anterior e menos que a seguinte!!!!O programa mandava rumar a Arraiolos e assim foi. 58 motos puseram-se a caminho ocupando só por si as longas rectas alentejanas, onde a caravana se perdia entre o primeiro elemento e o último. Foi magnifico. Já não participava num encontro desta magnitude desde há muitos anos e só tive pena que a viagem fosse somente de 20 kms para um lado e para outro. Esta adesão merecia muito mais kms, mas o programa mandava parar em Arraiolos e assim foi feito.Após o sempre complicado processo de estacionar, imobilizar e silenciar 58motos, fomos recebidos pelo presidente da câmara de Arraiolos, no salão nobre. Saída para visita a uma fábrica de tapetes de Arraiolos, cafézinho e uma última visita a uma igreja que datava de 1580 preencheram o tempo que nos detivemos em Arraiolos.Seguimos de volta a Évora, já com as barriguitas a dar horas. Nada que não ficasse resolvido quando entrámos no jardim municipal para provar unslicores de Poejo e provar uns salgados que por lá pululavam! É claro que coma fome que o pessoal tinha, os salgados volatilizaram-se, como que nunca lá estivessem estado. Os Poejos sempre duraram mais um pouco...Seguimos para os "Cantares de Évora", lugar que o 1º Encontro Ibérico do Megascooter Portugal já teve oportunidade de visitar e se bem se lembram,fomos brindados com um excelente espectáculo de improviso por parte dos elementos dos Cantares de Évora.O almoço que foi, como já tinha sido, excelente, o convívio e os momentos solenes, que consistiram na assinatura do documento, discurso do presidente do GWCP e um minuto de silêncio pelo falecimento de um companheiro,preencheram a primeira parte do programa dos "Cantares". As entregas dos brindes e alguma paródia à mistura colocaram um ponto final no programa que deixou água na boca. O Paulo foi o primeiro a seguir viagem,tendo nós seguido-lhe o exemplo poucos minutos depois.

Évora 27-10-2007 Constituição do Núcleo ASA do Goldwing Clube de Portugal

Cá deste lado assistimos com alguma admiração ao crescimento inesperado daquilo a que o Luís Castelos chamou no início um micro encontro.
O objectivo de constituir o Núcleo do Alentejo do GWCP não nos parecia suficientemente motivador para atrair a Évora muitos companheiros do GWCP. No entanto entusiasmámo-nos com a ideia e tentámos criar um momento agradável. Claro que à medida que as inscrições apareciam aumentava a inquietação que nos impele a todos a querer fazer melhor. A uns ainda mais que os outros e aqui devo dizer que foi um prazer trabalhar com o Luís Castelos e com o Zé Nunes. O primeiro é hiperactivo e tem uma "pica" que envolve tudo e mais alguma coisa num turbilhão de ideias e acções, o 2º não descura o mais infimo pormenor e é um mobilizador nato.

Às vezes pensa-se e diz-se que "estas coisas dão muito trabalho", ou então: "outros que façam que eu já dei o meu contributo". Eu acho que é exactamente o contrário. Quando somos "amadores" no sentido que o Joaquim Soares dizia, fazemos tudo com um imenso prazer. E sobretudo quando aqueles que pretendemos envolver respondem como todos vocês ontem, então apetece-me dizer: Contem sempre com o meu contributo!

Claro que não há "bela sem senão", este encontro, e há provas fotográficas, assentou em grande parte na exploração da mão-de-obra infantil. todos perceberam, ao chegar, que o eficaz e competente secretariado do encontro estava nas mãos da Joana, da Madalena, da Beatriz, da Ana Lia (esta chegou atrasada tivemos que lhe descontar no cachet) e acho que havia ainda mais um ou dois colaboradores cujos nomes não me lembro.
Também devo dizer que a realização de eventos desta natureza permite-nos ter outro papel, ou seja, permite-nos trepar na escala de privilégios, sim porque tivemos o prazer de conviver com o Senhor Presidente e restantes membros da direcção (foi mesmo só convívio, nem um bejecazita!) e agora somos tu cá tu lá com o poder (Carlos Silva Faz-me o favor de não te zangares com esta boca, foi mesmo a brincar).
Coisas mais sérias, coisas mesmo sérias são as imagens que ficam de 50 e muitas motas a rolar solidárias como um comboio que reluz de esperança nas planuras deste alentejo. Esperança e confiança no crescimento dum Clube mais coeso, mais solidário, que se renova de energias no sentido de se consolidar como um espaço inclusivo para todos os wingers. Desafio assumido pelos núcleos recém formados com resultados desde já evidentes na Ericeira e agora em Évora. Novos rostos, novos wingers aparecem com vontade de se associarem. Um clube maior e com uma vida associativa mais participada vai ser seguramente o resultado desta renovada dinâmica e em grande parte o desafio partilhado por todos os sócios, pelos orgãos sociais e pelos núcleos.

Este encontro foi possível antes demais com a participação de todos, mas também com a colaboração da Câmara Municipal de Arraiolos, a Câmara Municipal de Évora, a Polícia de Segurança Pública de Évora e com o patrocínio da Motodiana, Hospedaria d'el Rei, Montepio, Adega Cooperativa do Redondo e Oficina da Terra. Os Cantares de Évora merecem o destaque final como os grandes representantes da Cultura Alentejana cuja hospitalidade nos marca para todo o sempre.