sexta-feira, 23 de novembro de 2007

CRÓNICA DO PENDURA - I ENCONTRO IBÉRICO NO ALGARVE

A propósito do I Encontro Ibérico de MegaScooters realizado no Algarve em 2005


por Elisabete Silva






CRÓNICA DO ANTES…



A excitação e a expectativa deste primeiro verdadeiro encontro eram grandes. No sábado de manhã ultimavam-se os preparativos para a partida… O Luís revelava alguma dificuldade em escolher a cor do único par de cuecas que levaria para esta jornada… e acabou por optar pelo verde repolho, o que, diga-se de passagem, na intimidade, lhe fica a matar. Ela, maquinalmente mexia no cabelo cortado na véspera, privilégio dos dias de festa (será que ia para alguma "vernissage"?!). Prontos e finalmente instalados naquela que partilha também insistentemente a vida do Luís, seguiram viagem, pela planície alentejana, rumo a Beja, numa versão apocalíptica do casal Michelin, para irem de encontro aos seus companheiros Carlos, Luísa, Ana e Jorge…


A VERDADEIRA CRÓNICA COMEÇA AQUI…



Depois de efusivos abraços, próprios dos reencontros, fomos, cúmulo do sacrilégio, almoçar numa grande superfície. O fast-food, (propriedade do mano dos manos do Algarve) que de fast só tem o nome, foi a nossa única alternativa, longa e demorada (eu sei…eu sei… são dois adjectivos que querem dizer o mesmo, mas assim fica mais literário!). Apesar da lentidão do serviço, a canja aconchegou alguns dos nossos estômagos famintos e preparou-nos para a próxima etapa. Foi também nesse momento que trocámos algumas palavras com o Jorge que ainda não conhecíamos… Seguimos então viagem, em direcção a Mértola e Alcoutim, deslumbrados e embevecidos com as paisagens que iam desfilando, desfrutando de um dia radioso pelas estradas portuguesas. Paragem em Alcoutim, vila encantadora à beira do Guadiana para aliviar o cóxis e refrescar a garganta. O Paulo e o Fernando (os nossos irmãos gémeos do Algarve, que eu só consigo distinguir quando o Paulo me mostra uma parte da sua intimidade… a cicatriz da sua perna), iam juntar-se a nós, estrada fora, naquela que seria a parte mais bonita do nosso percurso, esta estradinha quase paradisíaca ao longo do Guadiana, contrastando com as imensas paredes de betão, raiando o céu de Monte Gordo. Os nossos anfitriões algarvios conduziram-nos ao hotel Navegadores para um merecido banho. O hotel encontrava-se apinhado de velhinhos que tinham vindo em excursão e a quem tinham dado ordem de soltura por um fim-de-semana… A Ana B abandonou-nos para ir ter com a amiga e os nossos manos, perfeitos cumpridores das suas obrigações conjugais, também nos deixaram, entregues a nós próprios, à imensidão desmesurada do hotel e aos velhinhos… Os nossos manos lamentaram a falta das suas companheiras respectivas (nós também!!!) e que, possivelmente, não demoraria muito até que conseguissem derrubar as barreiras entre elas e as companheiras de lata…Voltámos a encontrar-nos às oito para o jantar nas catacumbas do hotel e alguns dedos de conversa…Seguiu-se uma intensa animação nocturna no salão do nosso hotel, preparada para os nossos excursionistas da 3ª idade e que não conseguiu gerar nenhum entusiasmo esfuziante da nossa parte… a não ser talvez do Jorge, que disfarçadamente deitava um olho para o meio do rebanho, na esperança de encontrar alguém (do sexo oposto!) ainda com alguma vitalidade… para uma perninha de dança. Decidimos então provar os "prazeres" da vida nocturna em Monte Gordo… A noite ventosa não estava muito convidativa e entrámos no primeiro bar que nos surgiu para nos deliciarmos com umas caipirinhas e umas ginginhas e mais alguns dedos de conversa. A Luísa, talvez desejosa de afogar algumas mágoas, sugava sofregamente, pelas duas palhinhas, a sua caipirinha. Não ficará aqui para registo a forma titubeante como saiu do bar… amparada pelo Carlos. Como calculam, esta parte em nada corresponde à verdade…Regressámos ao hotel, respondendo ao chamamento dos lençóis… O nosso companheiro Jorge, qual pai de família conduziu-nos até ao elevador, para se certificar que íamos realmente dormir e deixou-nos, dando meia volta, indo ao encontro de uma alemã janota, talvez ainda com alguma vitalidade… Só algumas horas nos separavam agora do encontro com os nossos outros companheiros do Algarve e com os nossos companheiros de Sevilha…


Fomos, eu e o Luís, os últimos a chegar à mesa do pequeno-almoço. O Jorge não aparentava ter olheiras, sinal de que a noite, afinal, tinha sido calma, sem sobressaltos… e com pouca vitalidade… Aproximava-se, a grande velocidade, o momento do encontro com megascooters de outras paragens, de outras terras… e se não é mais do que um lugar comum, as pessoas serão sempre mais importantes que as máquinas…Chegaram em catadupa, a Ana e a sua amiga, o Paulo, a Dulce, o Eduardo e o Mário (o Aviador). O Fernando ainda estava no cumprimento das suas tarefas dominicais e só mais tarde viria ter connosco. Rumámos até ao outro lado da fronteira, Ayamonte, numa perspectiva puramente economicista, a de poupar alguns trocos na gasolina. Eu e o Luís sentíamos a falta de um bom café, mas não foi em Ayamonte que ficamos saciados…Onze horas, era a hora combinada para nos encontrarmos com os nossos congéneres de Sevilha, na ponte que liga Portugal a Espanha. Até o local escolhido tinha o seu lado simbólico… mas infelizmente desencontramo-nos momentaneamente dos nossos companheiros espanhóis, o que foi rapidamente solucionado com um telefonema do Miguel, mentor do grupo de Sevilha. E ali estavam elas, alinhadas e resplandecentes sob o sol algarvio… Burgmans, Silverwings, Piaggos, Aprillia e BMW. Cumprimentos esfuziantes de todos os participantes, perante o espanto de alguns transeuntes e de alguns automobilistas. Éramos já vinte e quatro e cerca de dezasseis motas (perdoem-me se a conta estiver errada, mas eu sou de letras). Um intenso regozijo enchia o peito do Luís, do Carlos e do Miguel (já de si bem amplos…), perante a concretização deste acontecimento. Lá fomos em comitiva, encabeçada pelo nosso chefe de fila, o Mário, até ao molhe de Vila Real de Santo António para uma das muitas sessões fotográficas do dia. Mais para a esquerda! Juntem-se mais! Fechem a boca! Tirem os dedos do nariz! Saiam da frente! O Jorge lá teimava em não querer ficar em todas as fotografias…O Carlos e o Miguel pousaram para a posteridade, mostrando o peito (o Carlos sem no entanto conseguir encolher a barriguinha…), onde podíamos ver os logótipos destas duas associações de malfeitores rolantes. E porque o árduo trabalho de pousar para as gerações vindouras abre o apetite, dirigimo-nos até à TASCA DO ZÉ, onde nos esperava o almoço. Este foi o momento para nos conhecermos melhor, falar de tudo um pouco… Vou abster-me de referir o que cada um comeu e bebeu, seria entrar demasiado na intimidade de cada um… Esperámos muito pelo o almoço… A fronteira entre Alentejo e o Algarve é muito ténue… O Jorge impacientava-se, barafustava e reclamava a sua parte da marmita dominical: Ó se faz fabor! Atão o cabrito? Tenho de ir comer à cozinha?? O final do almoço, foi o momento áureo deste encontro, onde assistimos a uma troca de lembranças de parte a parte. Num gesto simpático e simbólico, os nossos companheiros de Sevilha ofereceram-nos um prato em cerâmica que registará para sempre (isto é se ele não se partir nas mãos do Carlos!) este acontecimento, prenúncio de muitos outros e um cartaz da primeira Hispalense. Retribuímos com um exemplar único e modelo exclusivo (por enquanto!) do relógio da MegaScooterPortugal. O tempo segue inexoravelmente o seu caminho e aproximava-se já a hora da despedida. Fomos até Cacela Velha, mostrar algumas das bonitas paisagens do Algarve aos nossos companheiros espanhóis. A Ria Formosa serviu de cenário para as últimas fotografias do dia. Foi tempo de despedida, saudosos já de futuros encontros pelo país fora ou noutras paragens… Seguimos viagem em direcção ao norte, acompanhados por uns instantes pelos nossos amigos de Sevilha, rumo à rotina diária e aos afazeres ritualizados. A viagem foi algo penosa… A estrada em obras dificultou o nosso regresso e impunha-se uma primeira paragem para aliviar a bunda (pouco literário!) e a bexiga… Há sempre um episódio assim: as paragens para a "mijinha de beira de estrada", genuinamente portuguesas. O Carlos e o Luís foram apanhados com a boca na botija ou deverei antes dizer com a mão na coisa. Tal obscenidade foi testemunhada por mim e pela Ana que a registou em fotografia, mas que infelizmente a comissão de censura deste grupo e o nosso pudor também ,não permitirão que venham a público. Este triste acontecimento, que ensombrou a parte final da nossa jornada, teve lugar entre o Algarve e o Alentejo, na fronteira entre os dois, mas infelizmente para os nossos amigos do Algarve, ainda em terras algarvias… Tais imagens, representativas da imoralidade que grassa neste país, fariam corar as meninas do Intendente. Chegamos, enregelados pelo frio e doridos da viagem, mas com um sentimento de satisfação interior que dificilmente esqueceremos e porque afinal…nós por cá todos bem…


8/03/2005


Toranja








A minha resposta não tardou, estavam em causa as minhas opções estéticas em escolhas intimas:




Temos contas a ajustar! Isso de revelar aqui pormenores da nossa vida privada ... Devo esclarecer que o verde não é repolho, é mais escuro, mais sóbrio ... bom, também ninguém tem nada com isso, gajo que é gajo não se fixa nesses pormenores das cores das cuecas, portanto quero deixar bem claro que meti na mochila as primeiras cuecas que encontrei (minhas claro! não vou procurar cuecas às gavetas das gajas lá de casa ... ora esta! obrigar-me a dissertar aqui, na praça pública, sobre cores de cuecas!).
O conceito de côr é subjectivo, depende de um conjunto de factores de natureza física (a luz por exemplo) e de natureza simbólica. A cada côr, para cada indivíduo, está associado um conceito. Por exemplo para os benfiquistas o verde é uma côr demoníaca, já para os democratas cristãos o vermelho é satânico. As construções socio-psicológicas que fazemos das cores dependem ainda de factores geo-sociológicos. Para um artista plástico Norueguês a paleta de cores espraia-se pelas cores frias e os tons claros. Para o Malangatana ou para o Roberto Chichorro o mundo revela-se em cores quentes e tons fortes. A toranja é um citrino ácido de cor incandescente, por isso captou uma parte da energia do verde das minhas cuecas. Para acabar com a discussão poderia fotografar as cuecas e abrir um inquérito aqui para avaliar se o verde é seco e discreto ou se é repolho. Seria um problema se a concepção cromática maioritária alinhasse pelo conceito toranja, aí podia-se desencadear uma procura brutal a cuecas verde-repolho com efeitos imprevisíveis no ranking global de vendas de cuecas. Assim fico por aqui, não vá o diabo tecê-las!


LG

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