terça-feira, 9 de agosto de 2011

Vale de Aosta em Scooter

Vale de Aosta Itália Verão de 2011 em Scoooter
Estamos de regresso. Os últimos 11 dias correram velozes numa viagem de 5500 Km na Honda Silverwing. A 1ª paragem aconteceu num B&Bhotel a 900 km de casa, à entrada de Bordéus; seguiram-se 2 noites em Nus perto de Aosta, 1 noite em Rechy perto de Sierre (Suiça em casa de familiares), 2 noites em Donnas (Região de Aosta mas já perto de Piemonte), 2 noites em Manoske (Alpes da Alta Provença, França), 2 noites em Marselha e 1 noite em Saragoça. Hotéis baratos das cadeias B&B, NH, Campanille e Hotéis rurais em Aosta. Fomos 2 com toda a tralha que se vê nas fotos, o consumo médio geral situou-se ligeiramente abaixo dos 6l/100Km. Centenas ou talvez milhares de curvas percorridas que fariam as delícias dos mais aficionados, a mim deram-me algum gozo mas fundamentalmente o que me deu prazer foi viajar de mota por sítios bem bonitos, numa europa onde se sente cada vez mais a rutura do modelo socio-político. A motinha portou-se muito bem, não tivemos nenhum tipo de problema, o comportamento foi muito bom, mesmo com algum vento e muito movimento, sobretudo nas AEs francesas. Em viagem deu para manter velocidades expeditas entre os 130 e os 150 Km. Os abastecimentos de 200 em 200 Km (necessidade que já conhecia da Goldwing) não são propriamente uma limitação, são mais uma vantagem que nos permite viajar sem cansaço acumulado. Cada vez curto mais este conceito de motociclo.

domingo, 15 de agosto de 2010

Há coisas para as quais "não há amor como o primeiro"

Não há amor como o primeiro é uma daqueles chavões da tradição oral que, à primeira leitura, pode parecer não fazer muito sentido. Isto será tanto mais assim hoje em que o ascendente normativo de uma religiosidade castradora deixou de ter tanto peso na vida das pessoas e portanto essa espécie de força centrípeta que nos deveria atar ao bom caminho da moral e dos bons costumes, não se faz sentir com a mesma intensidade . No entanto esse paradigma, não há amor como o primeiro, tem um valor simbólico que transcende largamente a relação amorosa de duas pessoas. Por analogia dizemos frequentemente que a primeira edição deste ou daquele festival é que foi boa, a primeira vez disto ou daquilo é que foi a tal... No fundo é uma espécie de determinismo de salvaguarda institucional que remete para a história os factores de legitimação de actos, ritos e outros factos sociais.

Deixando de tergiversar, ainda que me lembre da minha primeira mota não posso dizer que essa é que foi a tal. Mal sabia andar de mota, era uma suzuki 400, velhota, com um escape barulhento… enfim, já foi há muitos anos e o tempo, inexorável, vai enevoando as imagens vividas.

Nesse primeiro ciclo da minha relação com as motas a que veio a seguir não deixou melhores recordações. BMW com uma larguíssima experiência de vida que a remetia para a tranquilidade da oficina com uma frequência onerosa. O tempo passou e a paixão das motas nunca ultrapassou o patamar platónico, fixando-se num vasto conjunto de impossibilidades materiais.

Mais tarde, bem mais tarde, depois de outros desvarios com máquinas, dessa vez voadoras, voltei às motas estávamos já em 2004. Uma BMW K1100LT parecia-me ser a paixão das paixões motoqueiras. Mas não, não foi, foi apenas um recomeço titubeante, um novo confronto pessoal com uma escassez de perícia, mais ou menos parecida com a estória da primeira suzuki 400.

Rapidamente deixei de me interessar pela BMW e foi então que aconteceu aquilo a que poderia chamar a primeira grande paixão por uma coisa de duas rodas, uma megascooter, uma Honda Silverwing lindíssima, fácil de conduzir, até para mim…

A partir daqui foi a formação do grupo das scooters, a criação de relações de amizade com gente que partilhava a mesma paixão, etc.. O grande prazer de andar e viajar de mota e todas as sensações associadas aconteceram com a Silverwing.

A Honda Goldwing que sucedeu a essa fantástica motoscooter, não passou de uma experiência pouco nova, andar de Goldwing é quase como andar de carro com 2 rodas.

Voltei às scooters com uma Burgman 650 executive, a chamada rainha das megascooters, cheia de gadgets que ao fim de 2 ou 3 utilizações é como se não existissem. E, segundo parece, nos fóruns europeus e americanos, estão referenciadas avarias frequentes e disparatadamente caras.

Vendi a Burgman sem convicção e quase por acaso. Ficou um enorme problema, que mota ter depois disto tudo? Tentei uma coisa diferente, exclusiva, uma Pacific Coast, quase impossível de encontrar cá em Portugal. A concepção futurista dessa mota não esconde os anos que tem e as soluções tecnológicas do passado. Desisti!

Na passada sexta-feira a coisa aconteceu, “num passo maluco rodámos na sala”, perdão, num ritmo doce embalámo-nos pela estrada e... afinal  não há amor como o primeiro!

domingo, 20 de junho de 2010

Perdi um Amigo!

 Pedro relacionava-se com a vida, com as coisas, com os outros, de forma muito particular. Fazia teatro e era bom actor, mas também cantava, não posso dizer que era bom cantor (se aqui estivesse ria-se!) mas encantava as pessoas, envolvendo-as nas suas cantorias como numa espécie de conversa que nunca interrompia. Passava-nos a sua visão do Mundo através de afectos, sorrisos, conversas calorosas, do teatro, no PCP, e também através das canções que cantava em todo o lado e em muitos momentos. Isso e o seu despojamento em relação aos símbolos de consumo, valeram-lhe uma alcunha carinhosa entre alunos de Montemor - Cigano Cantor

Perdi um amigo, perdi um camarada, perdi um companheiro de andanças de quase uma vida! O Mundo, Évora, a Escola, todos nós perdemos uma grande referência de liberdade e de dignidade. O meu Camarada Pedro Palma morreu!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Vivemos um estado de esquizofrenia colectiva

O mundo virtual da especulação financeira materializa-se nas nossas vidas através da total dependência da Europa ao império americano. As agências americanas, que cotam o alegado risco das dívidas dos países, determinam as políticas económicas e fiscais dos governos. Este é o campo da especulação mais selvagem para a qual a economia real é moldada pela indução de factores psicológicos. Isto pode significar que, por exemplo, a taxa de juro que um país paga pelo endividamento externo do estado e das empresas pode subir ou descer em função da avaliação que as famigeradas agências de rating fazem, a cada momento, do exercício político dos governos. Assim um aperto de mão entre um primeiro ministro e o líder da oposição pode valer uma descida brutal do serviço da dívida. Isso só acontece se o aperto de mão selar um compromisso de aprovação de medidas que estrangulem o poder de compra dos trabalhadores como por exemplo o aumento de impostos ou a redução da massa salarial através da taxação extraordinária do subsídio de férias e/ou de natal ou a redução das comparticipações do estado nos medicamentos e assitência na saúde. Quando é que acordamos todos e percebemos que isto não tem que ser assim! Tudo isto são convenções de suporte à exploração desenfreada do trabalho e à maximização brutal do lucro.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Há alguns dias que, em certos meios da cidade, não se fala de outra coisa

A possibilidade de vir a encerrar o Centro de Artes Tradicionais tem gerado inúmeras conversas, solidariedades e tomadas de posição.
Tudo isto começou com a apresentação em reunião pública de câmara, de uma minuta de protocolo para a criação de um museu de design.
Trata-se de um acordo tripartido entre um coleccionador privado, a Câmara Municipal e a Entidade Regional de Turismo, que prevê a utilização do espaço onde hoje existe o Centro de Artes Tradicionais para a instalação do dito museu do design.
Aquando da discussão do conteúdo do protocolo, foram colocadas pelos vereadores da CDU várias questões, cujas respostas não considerámos satisfatórias.
Tratando-se de um protocolo em que o Município assume a totalidade da logística, a adaptação do espaço, e os meios humanos necessários ao seu funcionamento, seria natural que junto do mesmo fosse apresentada um estudo que nos esclarecesse qual o valor em causa. Tal não aconteceu e nem em reunião de câmara a vereadora do pelouro ou o presidente foram capazes de dizer com clareza quais os custos para o município da instalação daquela colecção privada.
Previa o tal protocolo a manutenção deste apoio por parte do município até que o referido museu atingisse a auto-sustentabilidade, o que, segundo previsão da responsável do pelouro, aconteceria ao fim de dez anos.
Como o protocolo tem a validade de 10 anos, facilmente se conclui que o apoio se manteria durante toda a sua vigência.
Entendemos que tal distribuição de encargos e benefícios se manifestava lesiva do interesse público.
Nada me move contra a instalação de uma exposição permanente de peças de design industrial na nossa cidade, nem contra o proprietário do acervo a expor. Entendo até que a diversificação da oferta, com a instalação desta exposição permanente, constitui uma mais-valia para o concelho.
O que já não me parece razoável é que essa instalação se faça num espaço onde existe um Centro de Artes Tradicionais e em sua substituição.
Surgem agora argumentos que vão no sentido de nos tentarem convencer que as duas realidades podem coexistir naquele espaço.
Dando de barato a questão do enquadramento das Artes Tradicionais com o Design Industrial, num mesmo espaço, que nos parece francamente improvável e indesejável, basta uma leitura atenta da minuta do protocolo para se perceber que não existe uma única referência à manutenção do que constitui hoje o acervo do Centro de Artes Tradicionais.
Dois aspectos me parecem perfeitamente claros neste processo: por um lado uma desequilibrada distribuição de benefícios e encargos pelos parceiros, ficando, na prática, o município a sustentar a exibição de uma colecção privada de peças de Design Industrial, por outro lado a morte não anunciada de um espaço museológico dedicado às artes tradicionais que a acontecer será um verdadeiro crime de lesa cultura.
Por estas duas razões, eu e os meus companheiros eleitos pela CDU na Câmara Municipal votámos contra a assinatura daquele protocolo.
Lamentavelmente a maioria PS/PSD teve o entendimento contrário. Se existir bom senso ainda vão a tempo de voltar atrás e propor um novo protocolo, mais equilibrado e instalando a colecção de peças de design num outro espaço.
Bem sei que estou a pedir um milagre, mas como hoje é 13 de Maio…
Até para a semana

Eduardo Luciano
13 de Maio DianaFm

domingo, 2 de maio de 2010

lutar pela liberdade


Nos dias que correm somos cada vez mais reféns das teias de isolamento que asfixiam a sociedade global e que determinam o individualismo como marca mais profunda do homo simbolicus/semioticus. A fragmentação de saberes e a proliferação de signos que se explicam entre si são a essência da alienação. Ouvimos e lemos o que alguns, poucos, entendem que deve ser a história única do mundo, da Europa, da nossa cidade. As centrais de informação, peças tutelares do establishment criam os paradigmas a que devemos aderir e os tabus que nos limitam o pensamento. A luta pela Liberdade não é a ficção romântica daqueles que fizeram as revoluções do passado, o 25 de Abril em Portugal ou a luta contra a ocupação dos seu território, como os Saharauis. A luta pela liberdade, hoje, é um imperativo nas sociedades ocidentais, na Europa, e aqui ao pé da nossa porta, em Évora. A luta pela Liberdade hoje é a luta pela democratização dos saberes, pela democratização da cultura, pela comunicação como processo social de participação cidadã. Podemos e devemos ter um papel colectivo nesse processo !

mai 68 l'esprit de mai

As imagens, os sons, as cores, os ideais de maio de 68 estão hoje mais actuais que nunca. Tal como em Abril de 74 só nos resta lutar na rua pela defesa da liberdade e de todos os direitos que atenuaram a precarização do trabalho face ao capital e nos devolveram uma cidadania com dignidade. É tudo isso que está em risco em Portugal e nesta Europa onde os governos são meros instrumentos do grande capital transnacional e a crise, provocada pela especulação financeira, gerou uma total dependência ao império americano através das suas agências de rating, do seu fmi e de toda a panóplia de intrumentos de especulação que suportam o dolar como equivalente mundial de trocas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Público - Alumínio, lucros, política e claustrofobia na água de Évora



Raquel e Sandra deslizam no gelo. A pista de patinagem foi instalada numa tenda no meio da Praça do Giraldo, apesar do frio que faz em Évora. Não há muita gente no ringue. É fim-de-semana e as pessoas preferem fechar-se em casa. Mas as duas raparigas têm vontade de se divertir. Já caíram várias vezes, têm a roupa toda molhada.
“Se houvesse um centro comercial, não vínhamos para aqui de certeza”, diz Sandra, de 16 anos. “Em Évora não há nada para fazer. Não há concertos, não há bares giros, não há um cinema.” Raquel, 17 anos, aproxima-se a velocidade exagerada. Choca com a amiga.

Ler mais ...



Texto Paulo Moura, Foto Enric Vives-Rubio

in PÚBLICA, 17 Janeiro 2010 (link para maisevora.blogspot.com)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A Cidade e a Identidade ou as Prioridades Invertidas


As cidades crescem, e frequentemente esses processos decorrem de marcas que se constituem como desafios de futuro. Paris é talvez a cidade onde esse fenómeno é mais nítido. La Defense é um poderosíssimo estigma urbano com um conjunto de funções que projecta a cidade para o futuro. Numa simetria curiosa La Defense confronta-se com o Arco do Triunfo num corredor de tempo que envolve um dos grandes eixos da cidade. Este confronto é paradoxalmente harmonioso. Já o Palácio do Parlamento, iniciado no tempo de Nicolae Cceausescu e concluído depois da queda do regime, assenta nos escombros do centro histórico de Bucareste e daí, para o visitante não emana nenhum sentimento de harmonia nem celestial nem mesmo paradoxal.

Em relação a estes dois exemplos contraditórios de grandes intervenções no espaço urbano falo como um mero visitante, nenhuma relação de natureza identitária particular me envolve. Afiro um e outro com o crivo estético que evidentemente contém elementos culturais, ideológicos e simbólicos que compõe uma matriz, também identitária, mas difusa desse ponto de vista. Não nasci nem vivi em Paris nem em Bucareste. Também não nasci em Évora mas, aqui, vivi mais tempo do que em qualquer outro lugar. Identifico-me com Évora sem que essa relação seja tutelada por nenhum tipo de conservadorismo emergente do passado. Aliás quanto à história partilho a percepção de Sartre que a sente como o limiar intransponível da Liberdade. No entanto há coisas e sítios, feitas dessa harmonia que sintetiza a ordem e o caos, que transpiram por todos os poros a autoridade do tempo e, esses, inspiram-me um sentimento de imenso respeito. Évora é assim!

Apesar de tudo nada é intocável, nada é imutável, quem não se lembra em Évora da intervenção na Praça do Giraldo e das barbaridades ditas e escritas que suscitou. Hoje Évora não seria Évora se não tivesse devolvido a esta Praça funções ancestrais de Praça. A distância que a separa da Praça mediterrânica já foi menor, a relação com as raízes magrebinas permanece apenas na esfera imaterial das construções simbólicas de cada um, a possibilidade de reviver colectivamente essas memórias, que acontecia no tempo do Viva a Rua, já não acontece, mas a Praça nunca mais será aquela espécie de rotunda cujo centro era um espaço quase sagrado que mal se pisava, que se atravessava à pressa. Hoje na Praça cumpre-se a função primordial de largo de encontros, de conversas, de negócios e potencialmente de festa.

O projecto de intervenção na Acrópole em concreto levanta problemas de natureza identitária que sustentam a posição do Grupo Pró Évora e por isso remetem, com mais evidência, um mero projecto de arquitectura para a esfera política. Mas, apesar dos elementos identitários terem um enorme peso, o problema maior, na minha opinião decorre de outra ordem de questões: a Acrópole contém os monumentos e equipamentos culturais de maior importância que, só por si e desde sempre, garantem uma enorme atractividade. Intervir na Acrópole, desta forma, reforça muito esse conjunto de funções reforçando simultaneamente o efeito fragmentário para o centro histórico da perda acelerada de funções de centralidade de todo o tecido urbano que envolve a Acrópole. Seria absolutamente prioritário intervir nas causas dessa perda de funções por forma a manter a vida no centro histórico. A intervenção na Acrópole supostamente transfere para as grandes instituições da cidade – Fundação Eugénio D'Almeida e Universidade – grandes quantidades de recursos destinados ao património de todos nós. Dessa forma a cidade real não ganha nada com a intervenção na Acrópole e a possibilidade de encontrar meios financeiros para outros equipamentos vai-se distanciando neste horizonte provinciano para o qual o que conta é a sala de visitas, pouco frequentada pelos autóctones, como convém!




terça-feira, 24 de novembro de 2009

Ainda a protecção dos rails - Grupo Parlamentar do PCP

Depois de ter sido a alavanca decisiva para a aprovação da “Lei das 125”, e de ter começado a trabalhar nas armadilhas das estradas, o Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, em carta assinada pelos Deputados Miguel Tiago e Bruno Dias, questionou o Governo sobre o cumprimento da Lei 33/2004 que ditou a protecção dos rails na estradas portuguesas.

A missiva, dirigida ao Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, questiona o cumprimento daquela Lei referindo que o Grupo Parlamentar do PCP confirma que “continuam a existir diversas estradas sem qualquer saia protectora dos “rails”, mas ainda mais grave é o facto de novas vias de comunicação e transporte estarem a ser construídas e inauguradas sem que a lei seja cumprida. O Grupo Parlamentar do PCP foi alertado para o caso do IC13 que não dispõe dessas protecções. Segundo informações que chegaram a este Grupo Parlamentar, as saias metálicas de protecção chegaram a ser incluídas no caderno de encargos da referida obra e terão sido retiradas por orientação da Estradas de Portugal. De acordo com a comunicação social, essa medida estaria relacionada com a necessidade de contenção de custos. OU seja, assume a Estradas de Portugal que comete ilegalidades para apresentar melhores resultados financeiros.” A finalizar, a carta do PCP coloca ainda cinco questões ao Governo:

“1.Que outros casos de incumprimento da Lei nº 33/2004 tem o Governo conhecimento?

2. Que medidas tomará o Governo para assegurar o cumprimento da lei em todas as vias de comunicação, integradas ou não na rede rodoviária nacional?

3. Que medidas tomará o Governo para garantir a instalação das saias de protecção previstas na Lei ao longo do traçado do IC13, nos pontos legalmente previstos? 4. Em caso de acidente e de prejuízo para os motociclistas envolvidos, quem assumirá a responsabilidade?

5. Como justifica o Governo que a falta de verbas ou a necessidade de contenção orçamental provoque o incumprimento da Lei?"

domingo, 22 de novembro de 2009

Ao Mário

"Amigo deixo aqui as minhas memorias para que se não pense que a cultura é só um divertimento gastador de dinheiro, como nos querem fazer querer nestes tempos de "cultura dos morangos ou de espectaculos de Arena".


Logo após o 25 de Abril, e a descentralização do teatro e a consequente criação do Centro Cultural de Évora, da qual faziam parte um leque incrível de actores como o Paços, a Teresa e o Mário entre outros, eu uma criança de 8 anos fui levada ao teatro pela minha professora de teatro D. Arlete.

A primeira peça da Companhia de Teatro Profissional de Évora, era um luxo para mim, para os meus colegas e para a cidade.


Entrei nesse dia pela primeira vez no teatro Garcia de Resende, então muito mal tratado e a necessitar de muitas obras. A peça penso que o “28 de Setembro” era forte, tinha muito texto e perdoem-me os actores não me lembro de quase nada mas a figura daquele homem imenso, de voz rouca e grossa, com gestos forte e precisos, ficou na minha memoria até hoje.


Posso ainda agora fechar os olhos e vê-lo no palco a representar para um bando de miúdos, como se fossem o publico mais entendido do mundo.


Esta foi a minha primeira imagem de Mário Barradas, depois outras se seguiram no palco ou um pouco por toda a cidade, mas esta sempre se sobrepôs.


Talvez por isso eu me tenha apaixonado por esta nobre arte, talvez por isso eu tenha ido para a biblioteca pública ler outras peças de teatro, talvez por isso eu tenha enveredado pelo mundo das artes em geral.


E talvez por isso defenda hoje que a arte não necessita de ser simples ou primaria para que o publico a entenda, tem sim de ser honesta e clara.


Ao Mário devo isto como pessoa, já como eborense devo-lhe, eu e todos nós, muito mais, mas essa divida ficará por pagar, quem sabe um dia!"

Lurdes

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A DEMOCRACIA E A CULTURA ESTÃO MAIS POBRES

Morreu Mário Barradas, hoje, dia 19 de Novembro, pela manhã na sua casa de Lisboa.

Uma vida dedicada ao teatro, um contributo activo e fundamental para o desenvolvimento e democratização da Cultura em Portugal, nas últimas décadas, em Évora, fundou o projecto que foi referência da descentralização teatral em Portugal, projecto esse responsável pela formação de várias gerações de actores e germinação de novas estruturas artísticas.

Mário Barradas, agraciado pela Câmara de Évora com a Medalha de Mérito Municipal, Classe Ouro, foi um Homem do Teatro em toda a sua dimensão de actor, encenador, pedagogo e pensador de políticas teatrais.

Mário Barradas não foi um homem de consensos. Por vezes Polémico nas suas posições, o seu contributo foi absolutamente determinante na construção de Évora como cidade de Cultura, Classificada património Mundial.

O teatro perdeu um dos seus obreiros. Fica o seu grande exemplo de vitalidade e amor ao teatro, a Évora, à Cultura e à Democracia.

Mário Barradas foi um destacado militante do PCP.

Até sempre Mário!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Água, o passo seguinte


Esta solução que assenta no princípio do utilizador pagador e que aponta para a necessidade do preço a pagar pelo consumidor permitir a recuperação de todos os custos, incluindo a remuneração do capital investido pelos accionistas, terá como consequência quase imediata um aumento brutal do preço da água.
Vamos lá começar com uma verdade que o senhor de La Palisse não desdenharia: a água é um bem essencial à vida.
Podemos viver sem televisões, sem automóveis, sem telefones, sem mobílias, em casos extremos sem casa e com muito pouco comer, mas não sobreviveremos sem água.
Sendo a água um bem escasso e de consumo garantido a sua comercialização é naturalmente alvo da cobiça de insondáveis interesses privados.
Por Eduardo Luciano

Ler mais ...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Não, não é possível! Ou será?


Jorge de Burgos, monge cego e bibliotecário da obra de Umberto Eco “O Nome da Rosa”, é a sétima vítima de … si próprio. Nesta muito mais que história quase policial Eco atravessa simbolicamente 7 mortes que ocorrem numa abadia da idade média com uma sequência análoga ao profetizado como o fim dos tempo pelas 7 trompetas do Apocalipse. Nesse tempo a apologia do riso supostamente consignada no II livro da Poética de Aristóteles, confundia-se com a liberdade de acesso ao saber e com uma pré-teologia da libertação, do despojamento da riqueza e da separação dos poderes do estado e da igreja e opunha-se ao nominalismo sectário e à acção inquisitorial de uma Igreja Faustosa, herdeira da chamada doação de Constantino. O labirinto/biblioteca que esmagava o saber não era apenas nominal, traduzia o enleio da existência real. Em “O Nome da Rosa” estávamos em plena Idade média, tempo de existência fatal e cruel marcado pela acção inquisitorial dessa Igreja de João XXII com origem conceptual na bula Unam Sanctam de Bonifácio VIII. A esse mundo fatal opunha-se o optimismo de Marsílio de Pádua partidário do Imperador Luís II da Baviera na contenda entre este e o papa João XXII.

A dialéctica que opõe fatalismo e optimismo atravessa os tempos e exprime, de um ponto de vista simbólico, a relação entre as forças centrípeta e centrífuga, entre o estabelecido e o desconhecido, entre o medo e a coragem, entre o imobilismo e a dinâmica.

No mundo de hoje a reprodução dos medos faz-se à velocidade vertiginosa como tudo acontece. O sistema permanece, resiste à mudança vencendo e absorvendo relações sociais dialécticas pela estimulação individual dos medos, pela imposição da pretensa fatalidade Apocalíptica do capitalismo ser o fim dos tempos. Atrás destes tempos desenha-se a incerteza do desconhecido, o medo do abismo, a insegurança da desordem a fatalidade do caos.

O culto do não, não é possível assenta, ainda que intimamente, no conforto da certeza minimal da nossa própria defesa contra a frustração do arriscar no sonho da mudança.

Assim vamos caminhando de recuo em recuo para posições firmes, com os pés bem assentes na terra. Quando confrontados com uma onda de optimismo, desconfiamos, recuamos, tentamos segurar-nos às amuradas dos nossos medos do insucesso, da nossa angústia da incerteza da vitória. No contexto da não vitória impera a ordem, a regra, o tempo que parece imutável. Qualquer pequeno avanço que ocorra por um qualquer imponderável sócio-histórico-político, transcenderá largamente as nossas expectativas e traduzir-se-á numa estrondosa vitória.

Tudo isto a propósito de tudo e nada, da vida e da existência(zinha) e, afinal de contas, de Évora e do Alentejo.




quinta-feira, 29 de outubro de 2009

CLAREZA por Eduardo Luciano

Quando alguém nos oferece alguma coisa, manda a mais elementar regra de bom senso que ponderemos as consequências da sua aceitação.
Quando alguém nos parece propor parte do poder que legitimamente exerce, redobra a necessidade de ponderação, de avaliação dos prós e contras para aqueles que depositaram em nós o seu voto de confiança.
A participação no órgão executivo do Município por vereadores eleitos por forças políticas que não obtiveram a maioria, ainda que relativa, dos votos, com funções de gestão e responsabilidades atribuídas, pressupõe, em meu entender, a existência de um conjunto de condições e de um ambiente político que não existe na actual conjuntura.
Desde logo é desejável que exista um nível mínimo de confiança mútua entre quem obteve os votos suficientes para governar e quem não os obteve.
Quando a anunciada primeira visita aos serviços camarários dos três vereadores eleitos pela segunda força política mais votada, se torna impossível sem a companhia do Presidente ou de um dos vereadores do seu partido, estamos conversados sobre níveis mínimos de confiança mútua.
As duas forças políticas mais votadas nas últimas eleições autárquicas, e que elegeram o mesmo número de representantes no órgão executivo, têm projectos políticos diferentes e alternativos entre si.
Defendem estilos de gestão opostos, têm formas de estar na vida política que só por mero acaso podem coincidir num ou noutro ponto.
Como seria interpretado por aqueles que depositaram o seu voto num projecto de ruptura, a aceitação de pelouros que implicariam necessariamente solidariedades e compromissos com aquilo com que se pretende romper?
E quem ganhou será que estaria mesmo disponível para partilhar o poder? Que palavras devem ser tidas em conta nessa avaliação? As do discurso oficial que pede aos que não ganharam que assumam responsabilidades no executivo, ou as do discurso muito mais claro do assalariado do poder que diz exactamente o contrário e se manifesta opositor do enquadramento legal que permite essa partilha?
Como podem ver, só uma qualquer ânsia pelas migalhas do poder nos poderia levar a aceitar pelouros, numa parceria sem parceiros.
Seremos vereadores de corpo inteiro, honrando os compromissos assumidos para com quem nos elegeu. Exerceremos uma oposição firme e responsável, tendo os interesses das populações sempre presentes.
Votaremos favoravelmente e sem preconceitos todas as propostas que entendermos servir os interesses dos eborenses.
Votaremos contra e sem ceder a jogos de vitimização todas as propostas que entendermos lesivas para o interesse público.
Sou dos que entendem que é a clareza de posições e o constante prestar de contas sobre essas posições que tornam a politica numa actividade respeitável.
Foi esse compromisso que assumimos, é esse compromisso que cumpriremos.
Até para a semana
Eduardo Luciano

sexta-feira, 23 de outubro de 2009




O blogspot e o acesso condicionado à informação

A internet hoje é um espaço virtual de relações que se confundem com a vida. Construímos no ciberespaço um outro mundo, menos tutelado pelos poderes constituídos, onde se espraiam e potenciam saberes. A Web é fundamentalmente um espaço de comunicação alternativa onde se desconstroem mitos e ritos sociais (é claro que se constroem outros a uma velocidade estonteante que não permite institucionalizar nada). Se a Web em sentido lato é tudo isto, e muito mais, o surgimento da blogosfera veio potenciar ainda mais as características comunicacionais da internet e, fundamentalmente, veio democratizar ainda mais a comunicação. A blogosfera pela facilidade e pela gratuitidade atravessa todo o espectro de interesses e actividades, ou seja há milhões de blogues que se destinam a todos os fins. O “trânsito” que se estabelece com um blogue é frequentemente menor que o “trânsito” que se estabelece com um site que tenha por exemplo animações em flash. Os blogues têm menos potencialidades dessa natureza por isso os downloads e uploads que fazemos quando visitamos as páginas de um blogue são pouco “pesados”. A desinstitucionalização do processo social de comunicação de massas que acontece na Web incomoda muita gente na medida em que reforça a possibilidade de uma cidadania plena pelo acesso a fontes de informação sem limites e pela possibilidade de feedback total e em simultâneo num processo de comunicação. Também aqui, na Câmara de Évora, neste nosso microcosmo relacional, o acesso à internet livre, sujeito ao quadro legal vigente, parece ter-se constituído como um incómodo aparente e alegadamente para quem gere a rede interna. Nesse sentido foi-nos vedado o acesso aos milhões de blogues alojados no blogspot.com. Não nos vedaram o acesso aos blogues alojados no sapo, não nos vedaram o acesso aos blogues alojados no wordpress, nem nos vedaram o acesso a outros cantos da blogosfera. Esta atitude é um perfeito vexame, muito mais humilhante do que fechar o acesso à internet em horas de serviço. Essa seria uma atitude retrógrada e totalitária mas coerente. Esta parece ter como objectivo apenas não nos permitir o acesso à blogosfera eborense dado que todos, ou quase todos os blogues de Évora estão alojados no blogspot.com. Neste canto da blogosfera flui tudo, desde o contraditório em relação à opinião publicada no jornal local e demasiado tutelada pelos poderes constituídos, como o seu contrário, isto é o reforço das opiniões propagandeadas no jornal local. A liberdade individual de escolher as fontes de informação bem como o direito de réplica foi condicionada. Aqui na Câmara de Évora, no que diz respeito a comunicação, o “Free to Choose” série televisiva dos anos 80 nos EUA e best seller que suporta o paradigma liberal de direita de Milton Friedman, está apenas no horizonte de alguns.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

c'est un joli nom camarade


Hoje é dia 12 de Outubro, parece que o verão voltou fora de tempo, a temperatura subiu e o dia está bonito. É um excelente dia para superar tristezas, desilusões, desalentos, e voltar a afirmar que, como ontem, como há 6 meses, como desde sempre estamos agora mais juntos e mais solidários na luta por uma vida melhor, por uma cidade que seja um motivo de orgulho, por um Mundo mais justo, por uma sociedade que irradique de vez a exploração do homem pelo homem. Há 6 meses, no Teatro Garcia de Resende apresentávamos os 5 primeiros candidatos à Câmara e o o cabeça de lista à Assembleia Municipal. Este último, Abílio Fernandes, deu-nos desde sempre e em particular nestes 6 meses, uma lição de humildade, de solidariedade de força anímica, própria da sua imensa dimensão humana. Todos se envolveram e empenharam com tudo aquilo que tinham e que não tinham e fizeram deste percurso uma festa, divertimo-nos criámos laços, cimentámos amizades. Estava prenhe de razão Jean Ferrat ao cantar:
C'est un joli nom, camarade
C'est un joli nom, tu sais
Qui marie cerise et grenade
Aux cent fleurs du mois de mai (...)
O "tempo das cerejas" teima em perdurar, este nosso tempo de vida ainda agora aqui chegou, foi uma curta travessia de poucos meses que acreditámos ser o caminho da mudança. E é o caminho da mudança porque é o caminho que nos transporta pelo lado certo da vida. Havemos de lá chegar camaradas! Abílio emprestou-nos, sem exigir nenhum retorno, toda a sua humanidade, João Oliveira é uma força da natureza, Eduardo Luciano, figura franzina, com uma energia para lavar e durar, contagiou-nos com a verdade de uma simpatia e de uma inteligência que transcendem os limites de um quotidiano cinzento que se adivinha. Todos os outros que não nomeio tem a mesma dimensão humana, o mesmo capital de luta, e de solidariedade. Se já era motivo de orgulho ter camaradas como estes, agora sei que o caminho é mais curto porque com amigos como estes não há ventos que não prestem nem marés que não convenham. Se ontem nos pareceu que o porto estava ali, bem perto, hoje sabemos que o ontem foi apenas um ponto de partida. E agora, Camaradas, a nossa bagagem transborda de uma energia acumulada na luta, nos milhares de conversas e km percorridos no concelho, nas cumplicidades, nas novas amizades. Aqui volto a lembrar-me de Ferrat:
C'est un joli nom, camarade
C'est un joli nom, tu sais
Dans mon coeur battant la chamade
Pour qu'il revive à jamais
Se marient cerise et grenade
Aux cent fleurs du mois de mai
Esse apelo todos o sentimos no coração, agora é ainda mais forte, agora, ao fim de 8 anos de travessia no deserto sentimos o porto aqui tão perto, Vá camaradas mais um passo, já uma estrela se levanta e cada fio de vontade são dois braços e cada braço é uma alavanca!

Luís Garcia

Militante do PCP

Évora 12 de Outubro de 2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

comunicado dos GAM - Grupo de Acção Motociclista

É com grande satisfação que, depois de uma reunião havida em 2007 com o Deputado Miguel Tiago do Grupo Parlamentar do PCP, para apresentação da nossa associação, reunião essa onde lhe foram expostos diversos temas do foro motociclista que gostaríamos de ver abordados na Assembleia da República, constatamos o excelente trabalho que este tem vindo a desenvolver e para o qual vimos deste modo pedir a vosso apoio marcando presença na Assembleia da República no próximo dia 22 deste mês. Conforme explícito na mensagem do Deputado Miguel Tiago (ver anexos), o assunto que nesse dia vai ser debatido na Assembleia da República é do interesse de todos aqueles que gostam de motos e dos que desenvolvem as suas actividades profissionais nesta área. Agradecemos a divulgação junto dos vossos contactos.
Com as melhores saudações Sintra, 5 de Maio de 2009
GAM-Grupo Acção Motociclista

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

de mota para a madeira - parte 1

Desta vez não houve véspera. O dia antes da partida ficou estranhamente distante, isto porque a partida aconteceu às 21.30h de Portimão. Claro que devia ter começado por dizer alguma coisa mais assertiva que permitisse ao incauto leitor perceber que estava a iniciar o relato da minha viagem de mota à madeira. Como não comecei assim, provavelmente isto vai correr de forma pouco previsível, tanto mais que a tentativa de escrevinhar notas de viagem não passou de uma escassa meia hora à mesa do restaurante do volcán de tijarafe. Quanto à véspera entenderam-me! O dia anterior à partida foi cedo demais para fazer malas, ensaiar fixá-las na scooter, e todas aquelas coisa que se fazem na véspera. Bom! Está na altura de tentar organizar uma estória razoavelmente inteligível.
Quando nos chegaram as primeiras informações da recém criada linha marítima para o funchal com um ferry, de seu nome volcán de tijarafe, rimo-nos da ideia: Ir à madeira de mota? Não! Nem pensar! A figura ridícula, um tanto boçal, do presidente do governo regional atravessava, por essa altura, a estranha possibilidade de ir à madeira … de mota. No entanto e apesar do alberto joão e da sua carga hegemónica, a ideia tinha qualquer coisa que a empurrava para fora do patamar das ideias parvas que importunam os espíritos, mesmo os mais esclarecidos e distintos. Eu tinha estado na madeira em 1976. Lembrava-me de um território muito verde, com bananeiras, que nunca tinha visto, e com poucos centímetros quadrados por cultivar. Ficaram-me na memória imagens de pessoas a trabalhar em socalcos onde algumas cabras do continente provavelmente teriam receio de pôr as patas.

Lembrava-me das muitas provas de vinho da madeira e dos desvarios próprios dos 16 anos. Lembrava-me também de percursos lindíssimos em caminhos sinuosos, estreitos e com inclinações abruptas. Mais tarde percebem, como eu percebi assim que o vi, que também me lembrava do cachalote. Os trintas anos que passaram não acrescentaram nada de atractivo à imagem com que fiquei da madeira, pelo contrário, pelos motivos evidentes e já aflorados, com o tacto possível, mais acima.
Esse estranho e inexplicável efeito de empurrar uma ideia de um patamar para outro deve encontrar, no mínimo, um sentido no acaso e, às vezes, no absurdo. Foi portanto por acaso que fiz uma simulação na net do custo da hipótese absurda de viajar de mota para a madeira. A coisa começava a ganhar contornos de verosimilhança. O vil metal afinal determina tudo, ou quase tudo, e os 450€ significavam uma redução para metade do custo de um outro projecto de viagem que pairava lá por casa nesse tempo. Eu, que sou militante das ideias, vi-me confrontado, não pela primeira mas certamente pela enésima vez, com um determinismo do material sobre o imaginário.
É barato, que se lixe o jardim! Vamos à madeira … de mota!
A véspera, com o sentido simbólico que já perceberam que esta não teve, teria acontecido se não fosse brutalmente atropelada pela caravana do rally vinho da madeira. O barco, ou navio para os entendidos, parte regularmente de Portimão aos domingos às 12.00h. O único domingo em que isso não aconteceu foi exactamente aquele em que estes vossos amigos escolheram viajar. O acordo com a organização do rally fez com que a partida desse domingo fosse agendada para as 21.30h e realizada às 22.30h. Neste momento a voz da musa sobrepõe-se aos meus pensamentos dizendo insistentemente: não podes pôr na narrativa tantos pormenores porque depois isso é chato para os leitores. Ela tem razão por isso passarei à narração da estória sem mais floreados.


Mota carregada com os sacos laterais, a mala do túnel, uma mochila debaixo do banco, eu e a elisabete e ala que se faz tarde. A viagem correu normalmente. Os trinta e nove graus que o termómetro marcava não chegaram para quebrar o entusiasmo. Com uma paragem para meter gasolina chegámos a portimão cedo e, com alguma facilidade, apesar de não haver indicações, encontrámos o porto comercial.
Do barco nem sinal. Assim que chegámos fomos interpelados, ainda na mota, por um funcionário que nos perguntou onde íamos. Para o funchal, respondi mostrando o papel impresso com a tarjeta de embarque feita na net. O rapaz olhou para o papel e disse com toda a certeza: não esse papel não serve, tem que ir para a fila do check in. Claro que servia e na fila estivemos apenas escassos minutos.
Depois andámos por ali até que chegou, majestoso, o volcán de tijarafe. Já lá dentro, a olhar para uma coluna e para a burgman lembrei-me do aires pereira e da conversa no lunetas. Tinha-me esquecido de levar uma cinta para atar a mota. Com corda e uns trapos para proteger a pintura um companheiro lá do barco resolveu a coisa com engenho.
Aqui tem início a minha maior epopeia marítima, sim porque tratava-se de um cruzeiro - pelintra mas apesar de tudo cruzeiro – que preencheu 21 h das nossas existências. Tudo o que se passou naquelas 21 h são pormenores daqueles que já me valeram uma chamada de atenção um pouco mais acima, mas não resisto a contar alguns. Ela agora está distraída! Jantámos no self-service. Os preços a bordo são idênticos aos praticados nos bons restaurantes para camionistas. Seguramente que, se o armador fosse patrício, pagaríamos mais do dobro. Os navegantes mais endinheirados escolhem dormir em camarotes, eu e a elisabete preferimos recordar outros tempos e escolhemos as poltronas que apenas nos serviram de território base onde plantámos as mochilas. Depois de uma brevíssima passagem pelo bar/discoteca onde se ouviam em altos berros as músicas típicas destes sítios, fomos procurar uma espreguiçadeira para passar a noite.
Por esta altura percebe-se que acabámos por ficar num imenso camarote com um número infinito de estrelas a preencher o nosso tecto. Embalados pelo mar dormimos algumas horas. O dia seguinte passou-se à beira da piscina e, para mim, assentou numa coincidência daquelas que só se explicam pelo acaso: li, quase de uma assentada, um dos livros de mário de carvalho “fantasia para dois coronéis e uma piscina”. Prosa inteligente e hilariante por demais adequada à realidade que nos rodeava, a saber, uma animação, quase, permanente para turistas, que me escuso de adjectivar, com um música omnipresente e omnipotente.

O mar é aquilo que todos sentimos, imenso, azulíssimo nestas paragens e com golfinhos. Navegar é uma espécie de desnascer, uma espécie de retorno a uma atmosfera húmida de sal e sol e noite, que nos embala e acaricia ininterruptamente por uma brisa que nunca se detém. Tal como quando nascemos, já depois de sair do barco persistem reminiscências da travessia, dizem os pescadores algarvios que ficamos almareados. E foi assim que chegámos ao hotel escola no funchal. Não! Não vou falar do polícia músico nem dos 3 ou 4 papelinhos onde desenhou o complexo mapa que nos permitiu chegar ao hotel. Também não vale a pena falar da opinião crítica que teceu sobre o suposto compadrio que levou o alberto joão a contratar um amigo para fazer a estátua do enforcado. Devo apenas dizer que a escultura de uma espécie de Ícaro suspenso pelas asas é lindíssima e fica na estrada monumental pegada ao hotel escola. Só uma breve nota sobre o hotel: fica a 6 km do centro do Funchal, tem 20 quartos, piscina e é uma escola de hotelaria. Recomendo vivamente pela óptima localização, pelo preço e pela dimensão. A tranquilidade é total. Do quarto vê-se o mar e bananeiras.
No átrio estavam uns engravatados de copo na mão numa qualquer vernissage. Atravessámos o espaço com as malas da mota, as mochilas e o aspecto que imaginam e ouvimos: estes devem ser da comunicação social! Rimos e enfiámo-nos num duche rápido para conseguir chegar a horas ao jantar que tínhamos marcado com a susana e o nuno que estavam na sua última noite de madeira. Conseguimos chegar junto à sé com meia hora de atraso. Jantámos na parte antiga da cidade num bom sítio, que eles escolheram, umas óptimas espetadas em pau de loureiro com banana frita. A noite acabou na esplanada do bar do museu com um, só um, jameson - para mim, para os outros não digo, não sou nenhum delator - e com muita e boa conversa sobre tudo, a madeira e os madeirenses e a arquitectura fantástica da casa das mudas na ribeira brava.
Durante o primeiro dia andámos pelo funchal e subimos ao monte. O funchal é uma cidade bonita. Estende-se ao longo de uma baía, a cidade antiga de uma ponta funde-se com a cidade recente e a zona balnear do lido na outra ponta, para lá do porto comercial. Para terra espraia-se pelo vale num povoamento disperso que marca o urbanismo de toda a ilha, com maior incidência do lado sul. O lado norte é mais selvagem e com aglomerados urbanos um pouco menos dispersos.
Lembrava-me de poucas coisas do funchal de há 32 anos. O mercado dos lavradores estava associado a uma explosão de cores de frutos tropicais e flores e peixes com formas e dimensões novas para mim. O mercado do funchal de hoje ainda tem, orgulhoso, a mesma designação, mas as cores já não explodem em surpresa de formas, cheiros e conteúdos. Sinal dos tempos, do já nítido abandono de algumas terras, reverso da medalha de um crescimento que parece notável mas com custos que se vão projectando para um futuro cada vez mais próximo. A madeira de hoje ostenta dezenas de km de túneis e vias rápidas.
Os caminhos do passado ainda permanecem, revelando uma cultura que vai soçobrando atravessada pelas vias do crescimento rápido e homogeneizador. Os países que eu conheço na europa com melhores indicadores de qualidade de vida - irlanda e noruega – têm redes viárias rudimentares. O desenvolvimento não flui pelas auto-estradas. Em portugal essa lógica megalómana das grandes obras públicas, a curto prazo, maquilha os indicadores macroeconómicos gerando contextualmente emprego e crescimento pouco sustentado da economia. A longo prazo, como não gera só por si factores sólidos de desenvolvimento, vai projectando um futuro de incertezas, decorado por perigosos índices de endividamento.
A subida para o monte, pelos caminhos que percorri, foi possível na burgman mas, certamente, teria sido muito difícil e arriscada, na goldwing. No monte os carreteiros passeiam turistas numa descida com uma enorme inclinação. Correm atrás, sustendo, a força de braços, os carros de vime que transportam duas pessoas, numa desvairada corrida monte abaixo. Fiz essa descida há 32 anos e fiquei com a impressão que um ser humano não tem o direito de se servir da força física de outro assim, mesmo pagando muito dinheiro.
Berardo vai plantando arte por todo o lado. No jardim tropical monte palace os critérios estéticos são muito difusos. A entrada custa 10€ para percorrer um exuberante jardim onde arte africana se mistura com arte oriental e painéis contemporâneos que relatam a história de portugal. À saída do parque comemos bolo do caco com manteiga de alho num sítio com ar de tasca improvisada de feira, explorado pelos carreteiros, com uma vista soberba sobre o porto do funchal.
Monte abaixo, monte acima atravessámos a ilha para norte e fomos ter a santana. Curvas e mais curvas, em gancho, a subir, a descer, com inclinações que excedem, por vezes, os 15%, são as características das estradinhas bordejadas de verde e flores, lindíssimas!
Acabámos o dia no machico onde estava a decorrer uma feira gastronómica. E que fim de dia! A feira povoa um imenso espaço de lazer junto à praia contíguo ao fórum machico, imponente e talvez excessivo, mas invejável, espaço cultural de arquitectura contemporânea, de linhas muito depuradas e funcionais.

O recorrente bolo do caco com manteiga de alho acompanhou umas fantásticas lapas grelhadas e um picado (vitela frita com um molho excelente com gosto a alho, louro e manteiga). Na madeira bebe-se uma cerveja lá fabricada que se chama coral. É boa! As amplitudes térmicas são muito reduzidas, oscilando nesta altura do ano entre os 22 e os 27 graus, por isso não temos que ter especial preocupação com o frio à noite, quando viajamos de mota. O segundo dia teve como destino principal o pico do areiro. Situado a 1800m permite avistar o mar que bordeja os dois lados da ilha. Mesmo em frente ergue-se o pico ruivo ainda mais imponente e reservado apenas aos caminheiros. Tinha sido giro fazer a caminhada de mais de 2 horas mas não estávamos equipados para isso. O trilho perde-se em escarpas e desfiladeiros que desafiam a gravidade.
Descemos para voltar a subir e logo descer, e sempre o verde e as flores e quando paramos num miradouro logo aparecem, como que a dar-nos as boas vindas, as lagartixas que parecem que nos esperam e por nosso intermédio uma ou outra migalha de alguma coisa comestível.
Estavam esgotados os 3 primeiros dias. Ainda havia muita ilha para ver, muitos trilhos a percorrer. A burgman, neste sobe e desce permanente de cerca de 700 km e nos 500 km de évora-portimão-évora, nestes últimos com as malas, fez um óptimo consumo global de 5.9 l/100 km.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

DA Nação dos Sonhos

Fui surpreendido em 2005 quando vi na net os dois protótipos que a Honda apresentava na exposição de Tokyo, a E4-01 e a DN-01. A primeira alimentou os meus sonhos de vir a ter uma scooter concebida para as grandes viagens, com um motor 1000 de 4 cilindros e com uma estética fenomenal. Por enquanto a E4-01 permanece escondida lá bem para o fundo da Terra dos Sonhos. Contudo vinda daí emerge da cadeia de produção da Honda, lá para Abril, já não protótipo, a novíssima DN-01.
O objecto de marketing central associado à mota é o conceito de transmissão: HFT (Human Friendly Transmission). Este objecto não podia ser a caixa automática das moto4, soava a peça de "tractor". De facto com origem nessas caixas esta transmissão HTF é mais parecida com uma caixa automática convencional. Nesse sentido pode-se dizer que a DN-01 é a primeira mota automática. A Yamaha FJ1300AS tem uma embraiagem automática e caixa manual de accionamento eléctrico através de um botão no punho ou em alternativa no pedal, enquanto a Burgman 650 tem um variador em que um conjunto de carretos simulam o funcionamento de uma caixa de velocidades conferindo maior ou menor tensão e curso à correia.

A designação DN (Dream Nation) parece encetar uma nova linhagem de veículos, 01 será o primeiro. Linhagem de miscigenação de formas, de conceitos e de reprodução de um mito. Emergindo da Nação dos Sonhos esta coisa só podia ter uma configuração estética e simbólica, mais que Human Friendly, eu diria de natureza Bio. A Honda induz assim a estimulação, nunca antes tão nítida, de uma relação quase sincrética entre a máquina e o homem. Claro que Harley Davidson é um estilo de vida ou não seria um produto resultante de um imaginário para o qual o American Way of Life é o elemento central de reprodução sócio-política.

Talvez motivada pela longa presença nos EUA o gigante nipónico fez várias tentativas mais ou menos tímidas, mais ou menos bem sucedidas de associar uma matriz cultural a veículos. Estão neste grupo a bem sucedida Goldwing de inspiração Americana, a Pan European, igualmente muito bem sucedida, cujo alvo Cultural europeu era a BMW, e a Pacific Coast. Esta última, inspirada na simbologia Americana, foi uma quase DN-01 no sentido da fusão de conceitos. Esta mota teve uma inserção no mercado americano muito débil. Foi um exemplo de uma configuração estética que prometia mas com conteúdos tecnológicos que desiludiram. Travão de tambor a trás, um só disco à frente, motor bicilíndrico em V alimentado por carburadores e com prestações pouco brilhantes. Elementos que aliados à ausência de sistema de som e comunicação ou ecran eléctrico (A BMW K1100LT da época já tinha) configuravam uma mota vulgar com uma estética avançada.
Pelo que já li no site da Honda e no Folheto de apresentação a DN-01 não é de todo uma nova Pacific Coast. Alia à estética arrojada de fusão entre o conceito custom, megascooter e desportiva, conteúdos tecnológicos que, não sendo de ponta, são contemporâneos para o segmento que enceta, lá longe, na Terra dos Sonhos. ABS/CBS, GPS, sistema áudio com entrada USB, painel digital com computador de bordo, aliados à caixa de velocidades, remetem esta coisa para o patamar do mito, à semelhança com a Harley Davidson.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

MÃE

“Filho tem cuidado! Andas mal vestido e está tanto frio! Dou-te tanto trabalho, filho!” São as últimas frases que ecoam na minha cabeça dos milhões de recomendações, de conselhos, de sábias conclusões que tu, Mãe, tecias sobre mim, sobre a minha vida, sobre a tua neta sobre os governantes, sobre tudo o que te vinha à cabeça a uma velocidade frequentemente vertiginosa. Como falavas mexias-te. O "tio major" chamava-te “arrastadeira com motor de cadilac”. Esta energia durou, durou e durou comigo em criança, comigo em adolescente, com o meu pai toda a vida e com o meu pai doente. Lutaste, com a tenacidade que só as Mães têm, três anos contra um coração cansado, o do meu pai. Passavas já a barreira dos oitenta, Mãe e fizeste tudo para que o meu pai se sentisse feliz até ao fim da vida. Fizeste tudo, Mãe, para que toda a gente à tua volta se sentisse feliz.

As meias verdades que às vezes disparavas serviam apenas para esconder pequenas maldades que eu fazia e que o meu pai nunca puniria, mas ao ver-te esconder partes das estórias sentia-te solidária e sentia-me simultaneamente culpado das tuas quase mentiras e tive muitas vezes vergonha de ser o objecto dessa solidariedade.

"Mãe" desde hoje é uma representação disto tudo mas de muito mais: da verdade absoluta e intangível, do verdadeiro sentido da vida. A última fibra dos milhões que formam o cordão umbilical quebrou-se ontem às 16.30 h. Senti-me desnascer. Senti a necessidade absoluta do retorno ao espaço, ao tempo, que não sei, mas sei que é o ponto de intersecção onde tu foste sempre solidária comigo, assim, p'ra além da vida. Senti que partia sozinho para a aventura do reencontro.

A tua imagem à porta, a chamar a iris para me verem ambas partir de mota. Zangares-te com a cadela porque não vinha, só tu Mãe! Só tu eras capaz de temer aquela enorme máquina - "filho tem cuidado com a mota... o frio que apanhas ! Oh meu Deus!" - e sentir ao mesmo tempo um imenso orgulho de ver o teu filho montado naquilo.

As recordações que guardo de tua cara bonita, do teu corpo pequenino e gorducho, da tua irrequietude que não te deixava parar à mesa mesmo quando éramos teus convidados, do teu sorriso aberto e franco de mulher do sul, são o meu primeiro e único oráculo. Não de um Deus qualquer maniqueísta, masculino, punitivo. Não Mãe! Partiste como milhões de mães, fundiste-te numa consciência universal profundamente feminina que ainda é o garante deste precário equilíbrio em que vivemos. É esse o caminho de retorno que me mostraste ontem às 16.30h.

Não! Mãe, não falo de nenhuma experiência esotérica, falo das memórias, das estórias, dos teus silêncios, dos pensamentos que me lias em palavras fingidas que inventavas para materializar a vida. E tão bonita que era essa VIDA! É isso que me está a invadir o pensamento diluído nas lágrimas que não evito. Se há algo sagrado na VIDA só pode emergir dessa representação a que chamamos MÃE.

MÃE és tu, já incorpórea, mas materializada em tudo aquilo que sou, mas és muito mais do que isto, és aquilo que querias para mim e lutaste por mim e eu não consegui ser. Assim te perpetuas nos meus sentimentos, nos meus desejos, nos meus sonhos. Mas não deixa de ser muito triste, MÃE, chamar-te e não apareceres a sorrir numa dimensão tangível. Nunca mais isso vai acontecer MÃE! Milhões de mulheres e muitos milhões de seres vão chamar Mãe e poder beijar esses muitos rostos sorridentes. Eu já não posso.Os últimos tempos MÃE foram um paradoxo: a doença teimava em afastar-te mas a nossa força uniu-nos como no princípio em que eu era uma criança e o teu colo o meu universo.É fácil ter um universo assim, é confortável, é quente. Mas tu fisicamente já não podias MÃE, já tinhas gasto as tuas forças em 84 anos de vida. Compreendo! Mas isso em nada alivia a dor.Ontem às 16.30h, um pedaço de mim desnasceu, mas simultaneamente renasceu em mim uma vontade brutal de vencer a minha própria inércia e de mergulhar bem fundo neste ser que criaste numa procura permanente das raízes que plantaste e voltar a fecundar este solo de terra, mar, MÃE.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Refúgio Aboim Ascenção - Pelo Direito a um Colo

DSC02223
A caravana pela felicidade teve como objectivo principal o Refúgio Aboim Ascenção. Este nome soava-me, lembrava-me um psicólogo vestido de preto, que raras vezes vi na televisão a comentar casos ligados a abandono de crianças. Esse homem fala com uma linguagem clara, diz o que pensa por isso passa a imagem, incómoda para o stablishment, de um profundo inconformismo. Refiro-me a Luís Villas Boas, psicólogo, ex Coronel de cavalaria, e combatente, quase guerrilheiro, pela felicidade de crianças abandonadas ou vítimas de maus-tratos. A luta diária travada por Luís Villas Boas e uma equipa imensa de gente, com formações diversas, faz-se pelo direito que cada criança tem a um Colo. Este direito foi e é o paradigma do Refúgio Aboim Ascensão. Moral e juridicamente estamos de acordo, as crianças têm direito à alimentação, a um tecto, à educação e genericamente aos afectos dos pais. E quando não têm pais e quando os pais as abandonam ou as maltratam? No Refúgio Aboim Ascenção essas crianças encontram um Colo. E encontram uma equipa de gente que, nas mais variadas áreas, luta para esse direito determinar um caminho e traduzir-se numa vida feliz. A batalha tem muitas frentes, a jurídica, a institucional, a emocional mas a equipa do refúgio é uma equipa ganhadora.
 DSC02219
Luís Villas Boas ao longo das 2 horas de visita guiada desafiou-nos, fez-nos rir mas também fez-nos vir as lágrimas aos olhos. Disse-nos mais do que uma vez: “quando saírem daqui não vão ser capazes de contar o que viram.”
Eu já repeti a estória da visita 4 vezes, primeiro à Elisabete, depois a vários grupos de amigos. A estória convence toda a gente mas as emoções que emergem de um humanismo arrebatador, de uma consciência que está bem para lá dos processos funcionais e das estruturas que atravessa, essas, são vividas diariamente no Refúgio Aboim Ascensão e nós, grupo de motoqueiros imbuídos do espírito natalício, tivemos o enorme privilégio de as viver em duas horas de contacto com aquelas crianças e aquela equipa.DSC02221
O Refúgio acolhe crianças até aos 6 anos, tem muitas dezenas de Bebés, e trava uma batalha diária pela adopção dessas crianças. Para corresponder ao desafio do Luís Villas Boas eu diria que o refúgio é um espaço de esquecimento e esperança. Esquecimento dos maus tratos, dos momentos terríveis do abandono, das violações. Esperança numa nova família adoptiva, numa nova matriz humana de afectos. Tudo isto se inicia activamente no refúgio. O Refúgio é um espaço de habilitação à vida. Todas as salas, todos os rostos de adultos e de crianças transpiram uma felicidade contagiante. Ali os bocadinhos estilhaçados do puzzle de cada vida são reagrupados e assim produzem-se novas VIDAS. Aquela gente sabe que as crianças merecem tudo, aquela gente conhece profundamente os legítimos interesses de cada criança, aquela gente propicia aquelas crianças terapias e cuidados ao nível do que de melhor se faz no Mundo. Isto não se explica, vivência-se numa visita ao Refúgio Aboim Ascenção.

O tempo de permanência no refúgio, de cada criança, não deve ultrapassar os 18 meses, é importante não criar laços, é importante que cada criança sonhe com a sua nova família e a reencontre rapidamente - o estado, a segurança social, os tribunais dificilmente acompanham esta necessidade. Os tempos de trabalho desses técnicos todos esgotam-se entre as 9 h e as 17 h. No refúgio vivem crianças que necessitam de … colo das 9 h às 21 h e das 21 h às 9 h.
untitled villas boas untitled2
Quanto aos laços quando perguntei ao Luís Villas Boas se esse período curto de 18 meses não sobrava para criar laços para toda a vida entre os adultos que ali trabalham e as crianças respondeu-me: quando cada criança sai elas (as técnicas) choram como madalenas. Nesse momento fiquei convencido que o mesmo se passava com o Senhor Coronel. Perdão: Um Coronel não chora como uma madalena, um Coronel chora como um HOMEM.