segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Para lá do Douro nas margens do prazer ...


A semana que antecedeu a coisa, foi marcada pela consulta constante aos sites da meteorologia. Em frente ao computador enfrentei ventos,chuva, neve procurando estoicamente uma nesga de sol que me transportasse na GL até Peso da Régua. Nesta travessia de furiosos elementos encontrei, num ou noutro canto da internet, a réstia de esperança e convenci-me e convenci a Elisabete: Vamos de mota, vai estar bom tempo! Telefonei ao Caniço, todo orgulhoso da minha decisão ... pá, vamos de mota, então ia para um encontro de motas de carro? Não fazia sentido! O tempo vai estar óptimo!Sexta-feira de manhã o sol radioso iluminou-me o quarto e a Elisabete, ainda a protestar pela invasão de luz, lá concordou:Pois, assim ... vamos de mota!Depois de um café já ensombrado com algumas nuvens, partimos, O Zé Caniço e a João no Jeep e nós na GL. Ainda havia sol mas era para lá das nuvens que se adensavam no horizonte.A chuva não tardou a cair com alguma intensidade. O nosso companheiro, à frente, fazia pisca para a direita, dentro do Jeep deve ter ouvido os protestos da Elisabete.Por entre epítetos tipo: ...Este gajo é maluco! ... eu bem lhe disse! ... tá lá tempo para andar de mota! Deu-se o transvase:Elisabete pró Jeep com os outros wingers auto transportados e eu abandonado à minha sorte, 420 Km pela frente de ... puro gozo! Um tanto humedecido pela chuva que teimava em cair, numa dança por vezes difícil com a forte ventania que atravessava os viadutos da IP3,seguia à velocidade estonteante de 80 Km/h. Eles mais tarde - sim os wingers TT - contaram-me que caíram alguns flocos de neve já perto da Régua. Sinceramente não os vi, potenciei toda a minha acuidade visual na tentativa de ver os traços brancos da estrada e os pontos vermelhos dos farolins do carro do Zé Caniço que mais pareciam manchas informes naquele quadro surreal.Por fim a noite precoce deixava adivinhar as luzes da povoação e o hotel emergia, no emaranhado esbatido de luzes, água, carros e pessoas, como um porto de abrigo. A pobre GL é que pagou as favas,estacionada à chuva, ali permaneceu até ao dia seguinte, a vontade de sair e procurar a entrada para a garagem foi derrotada pelo conforto do hotel e pelo calor do reencontro com amigos. Saímos, sim, mas mais tarde, depois do duche quente e do Porto saboreado entre cumprimentos e abraços, algumas novas apresentações, afinal de contas foi o meu 2º evento. Aqui está na altura de dizer que não fui o único, uma boa meia dúzia de motas, estacionadas na garagem, exclamavam de si para si (afinada em dó, que mota que se preze não afina em si): tanto quadriciclo! A César o que é de César, ao Luís Nascimento (perdão ao Senhor Director Luís Nascimento) disse logo: a culpa foi tua que andaste a desinquietar o pessoal com o lado mais optimista das previsões meteorológicas. A falta de convicção fazia-me rir e pensava cá
comigo que o valor acrescentado deste tipo de paixão é desinstalar-nos do comodismo que cresce com o tempo e nos acelera o envelhecimento.Estes enormes objectos lúdicos desafiam-nos constantemente a regressar ao imaginário de crianças, enfrentando elementos, medos,distâncias, transportando-nos a novas amizades.Tudo o que se sucedeu daqui para a frente ilustra bem aquilo que acabei de dizer. Bom! Quase tudo. Aquilo dos votos, das reacções às votações e depois das atribuições de prémios disto e daquilo não foi brincadeira, foi coisa séria, de adultos.Pelo meio aconteceram deliciosas conversas à volta da mesa,acompanhadas de deliciosos petiscos, desfrutando belíssimas paisagens onde crescem as uvas dos vários néctares do Douro. Os espaços, os sons, as luzes e as sombras permanecem, nós regressámos já com vontade de voltar a viajar de mota, de reencontrar amigos, porque tudo isto existe e ... nem é triste nem é fado. É paixão!