terça-feira, 24 de novembro de 2009

Ainda a protecção dos rails - Grupo Parlamentar do PCP

Depois de ter sido a alavanca decisiva para a aprovação da “Lei das 125”, e de ter começado a trabalhar nas armadilhas das estradas, o Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, em carta assinada pelos Deputados Miguel Tiago e Bruno Dias, questionou o Governo sobre o cumprimento da Lei 33/2004 que ditou a protecção dos rails na estradas portuguesas.

A missiva, dirigida ao Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, questiona o cumprimento daquela Lei referindo que o Grupo Parlamentar do PCP confirma que “continuam a existir diversas estradas sem qualquer saia protectora dos “rails”, mas ainda mais grave é o facto de novas vias de comunicação e transporte estarem a ser construídas e inauguradas sem que a lei seja cumprida. O Grupo Parlamentar do PCP foi alertado para o caso do IC13 que não dispõe dessas protecções. Segundo informações que chegaram a este Grupo Parlamentar, as saias metálicas de protecção chegaram a ser incluídas no caderno de encargos da referida obra e terão sido retiradas por orientação da Estradas de Portugal. De acordo com a comunicação social, essa medida estaria relacionada com a necessidade de contenção de custos. OU seja, assume a Estradas de Portugal que comete ilegalidades para apresentar melhores resultados financeiros.” A finalizar, a carta do PCP coloca ainda cinco questões ao Governo:

“1.Que outros casos de incumprimento da Lei nº 33/2004 tem o Governo conhecimento?

2. Que medidas tomará o Governo para assegurar o cumprimento da lei em todas as vias de comunicação, integradas ou não na rede rodoviária nacional?

3. Que medidas tomará o Governo para garantir a instalação das saias de protecção previstas na Lei ao longo do traçado do IC13, nos pontos legalmente previstos? 4. Em caso de acidente e de prejuízo para os motociclistas envolvidos, quem assumirá a responsabilidade?

5. Como justifica o Governo que a falta de verbas ou a necessidade de contenção orçamental provoque o incumprimento da Lei?"

domingo, 22 de novembro de 2009

Ao Mário

"Amigo deixo aqui as minhas memorias para que se não pense que a cultura é só um divertimento gastador de dinheiro, como nos querem fazer querer nestes tempos de "cultura dos morangos ou de espectaculos de Arena".


Logo após o 25 de Abril, e a descentralização do teatro e a consequente criação do Centro Cultural de Évora, da qual faziam parte um leque incrível de actores como o Paços, a Teresa e o Mário entre outros, eu uma criança de 8 anos fui levada ao teatro pela minha professora de teatro D. Arlete.

A primeira peça da Companhia de Teatro Profissional de Évora, era um luxo para mim, para os meus colegas e para a cidade.


Entrei nesse dia pela primeira vez no teatro Garcia de Resende, então muito mal tratado e a necessitar de muitas obras. A peça penso que o “28 de Setembro” era forte, tinha muito texto e perdoem-me os actores não me lembro de quase nada mas a figura daquele homem imenso, de voz rouca e grossa, com gestos forte e precisos, ficou na minha memoria até hoje.


Posso ainda agora fechar os olhos e vê-lo no palco a representar para um bando de miúdos, como se fossem o publico mais entendido do mundo.


Esta foi a minha primeira imagem de Mário Barradas, depois outras se seguiram no palco ou um pouco por toda a cidade, mas esta sempre se sobrepôs.


Talvez por isso eu me tenha apaixonado por esta nobre arte, talvez por isso eu tenha ido para a biblioteca pública ler outras peças de teatro, talvez por isso eu tenha enveredado pelo mundo das artes em geral.


E talvez por isso defenda hoje que a arte não necessita de ser simples ou primaria para que o publico a entenda, tem sim de ser honesta e clara.


Ao Mário devo isto como pessoa, já como eborense devo-lhe, eu e todos nós, muito mais, mas essa divida ficará por pagar, quem sabe um dia!"

Lurdes

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A DEMOCRACIA E A CULTURA ESTÃO MAIS POBRES

Morreu Mário Barradas, hoje, dia 19 de Novembro, pela manhã na sua casa de Lisboa.

Uma vida dedicada ao teatro, um contributo activo e fundamental para o desenvolvimento e democratização da Cultura em Portugal, nas últimas décadas, em Évora, fundou o projecto que foi referência da descentralização teatral em Portugal, projecto esse responsável pela formação de várias gerações de actores e germinação de novas estruturas artísticas.

Mário Barradas, agraciado pela Câmara de Évora com a Medalha de Mérito Municipal, Classe Ouro, foi um Homem do Teatro em toda a sua dimensão de actor, encenador, pedagogo e pensador de políticas teatrais.

Mário Barradas não foi um homem de consensos. Por vezes Polémico nas suas posições, o seu contributo foi absolutamente determinante na construção de Évora como cidade de Cultura, Classificada património Mundial.

O teatro perdeu um dos seus obreiros. Fica o seu grande exemplo de vitalidade e amor ao teatro, a Évora, à Cultura e à Democracia.

Mário Barradas foi um destacado militante do PCP.

Até sempre Mário!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Água, o passo seguinte


Esta solução que assenta no princípio do utilizador pagador e que aponta para a necessidade do preço a pagar pelo consumidor permitir a recuperação de todos os custos, incluindo a remuneração do capital investido pelos accionistas, terá como consequência quase imediata um aumento brutal do preço da água.
Vamos lá começar com uma verdade que o senhor de La Palisse não desdenharia: a água é um bem essencial à vida.
Podemos viver sem televisões, sem automóveis, sem telefones, sem mobílias, em casos extremos sem casa e com muito pouco comer, mas não sobreviveremos sem água.
Sendo a água um bem escasso e de consumo garantido a sua comercialização é naturalmente alvo da cobiça de insondáveis interesses privados.
Por Eduardo Luciano

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Não, não é possível! Ou será?


Jorge de Burgos, monge cego e bibliotecário da obra de Umberto Eco “O Nome da Rosa”, é a sétima vítima de … si próprio. Nesta muito mais que história quase policial Eco atravessa simbolicamente 7 mortes que ocorrem numa abadia da idade média com uma sequência análoga ao profetizado como o fim dos tempo pelas 7 trompetas do Apocalipse. Nesse tempo a apologia do riso supostamente consignada no II livro da Poética de Aristóteles, confundia-se com a liberdade de acesso ao saber e com uma pré-teologia da libertação, do despojamento da riqueza e da separação dos poderes do estado e da igreja e opunha-se ao nominalismo sectário e à acção inquisitorial de uma Igreja Faustosa, herdeira da chamada doação de Constantino. O labirinto/biblioteca que esmagava o saber não era apenas nominal, traduzia o enleio da existência real. Em “O Nome da Rosa” estávamos em plena Idade média, tempo de existência fatal e cruel marcado pela acção inquisitorial dessa Igreja de João XXII com origem conceptual na bula Unam Sanctam de Bonifácio VIII. A esse mundo fatal opunha-se o optimismo de Marsílio de Pádua partidário do Imperador Luís II da Baviera na contenda entre este e o papa João XXII.

A dialéctica que opõe fatalismo e optimismo atravessa os tempos e exprime, de um ponto de vista simbólico, a relação entre as forças centrípeta e centrífuga, entre o estabelecido e o desconhecido, entre o medo e a coragem, entre o imobilismo e a dinâmica.

No mundo de hoje a reprodução dos medos faz-se à velocidade vertiginosa como tudo acontece. O sistema permanece, resiste à mudança vencendo e absorvendo relações sociais dialécticas pela estimulação individual dos medos, pela imposição da pretensa fatalidade Apocalíptica do capitalismo ser o fim dos tempos. Atrás destes tempos desenha-se a incerteza do desconhecido, o medo do abismo, a insegurança da desordem a fatalidade do caos.

O culto do não, não é possível assenta, ainda que intimamente, no conforto da certeza minimal da nossa própria defesa contra a frustração do arriscar no sonho da mudança.

Assim vamos caminhando de recuo em recuo para posições firmes, com os pés bem assentes na terra. Quando confrontados com uma onda de optimismo, desconfiamos, recuamos, tentamos segurar-nos às amuradas dos nossos medos do insucesso, da nossa angústia da incerteza da vitória. No contexto da não vitória impera a ordem, a regra, o tempo que parece imutável. Qualquer pequeno avanço que ocorra por um qualquer imponderável sócio-histórico-político, transcenderá largamente as nossas expectativas e traduzir-se-á numa estrondosa vitória.

Tudo isto a propósito de tudo e nada, da vida e da existência(zinha) e, afinal de contas, de Évora e do Alentejo.