domingo, 15 de agosto de 2010

Há coisas para as quais "não há amor como o primeiro"

Não há amor como o primeiro é uma daqueles chavões da tradição oral que, à primeira leitura, pode parecer não fazer muito sentido. Isto será tanto mais assim hoje em que o ascendente normativo de uma religiosidade castradora deixou de ter tanto peso na vida das pessoas e portanto essa espécie de força centrípeta que nos deveria atar ao bom caminho da moral e dos bons costumes, não se faz sentir com a mesma intensidade . No entanto esse paradigma, não há amor como o primeiro, tem um valor simbólico que transcende largamente a relação amorosa de duas pessoas. Por analogia dizemos frequentemente que a primeira edição deste ou daquele festival é que foi boa, a primeira vez disto ou daquilo é que foi a tal... No fundo é uma espécie de determinismo de salvaguarda institucional que remete para a história os factores de legitimação de actos, ritos e outros factos sociais.

Deixando de tergiversar, ainda que me lembre da minha primeira mota não posso dizer que essa é que foi a tal. Mal sabia andar de mota, era uma suzuki 400, velhota, com um escape barulhento… enfim, já foi há muitos anos e o tempo, inexorável, vai enevoando as imagens vividas.

Nesse primeiro ciclo da minha relação com as motas a que veio a seguir não deixou melhores recordações. BMW com uma larguíssima experiência de vida que a remetia para a tranquilidade da oficina com uma frequência onerosa. O tempo passou e a paixão das motas nunca ultrapassou o patamar platónico, fixando-se num vasto conjunto de impossibilidades materiais.

Mais tarde, bem mais tarde, depois de outros desvarios com máquinas, dessa vez voadoras, voltei às motas estávamos já em 2004. Uma BMW K1100LT parecia-me ser a paixão das paixões motoqueiras. Mas não, não foi, foi apenas um recomeço titubeante, um novo confronto pessoal com uma escassez de perícia, mais ou menos parecida com a estória da primeira suzuki 400.

Rapidamente deixei de me interessar pela BMW e foi então que aconteceu aquilo a que poderia chamar a primeira grande paixão por uma coisa de duas rodas, uma megascooter, uma Honda Silverwing lindíssima, fácil de conduzir, até para mim…

A partir daqui foi a formação do grupo das scooters, a criação de relações de amizade com gente que partilhava a mesma paixão, etc.. O grande prazer de andar e viajar de mota e todas as sensações associadas aconteceram com a Silverwing.

A Honda Goldwing que sucedeu a essa fantástica motoscooter, não passou de uma experiência pouco nova, andar de Goldwing é quase como andar de carro com 2 rodas.

Voltei às scooters com uma Burgman 650 executive, a chamada rainha das megascooters, cheia de gadgets que ao fim de 2 ou 3 utilizações é como se não existissem. E, segundo parece, nos fóruns europeus e americanos, estão referenciadas avarias frequentes e disparatadamente caras.

Vendi a Burgman sem convicção e quase por acaso. Ficou um enorme problema, que mota ter depois disto tudo? Tentei uma coisa diferente, exclusiva, uma Pacific Coast, quase impossível de encontrar cá em Portugal. A concepção futurista dessa mota não esconde os anos que tem e as soluções tecnológicas do passado. Desisti!

Na passada sexta-feira a coisa aconteceu, “num passo maluco rodámos na sala”, perdão, num ritmo doce embalámo-nos pela estrada e... afinal  não há amor como o primeiro!

domingo, 20 de junho de 2010

Perdi um Amigo!

 Pedro relacionava-se com a vida, com as coisas, com os outros, de forma muito particular. Fazia teatro e era bom actor, mas também cantava, não posso dizer que era bom cantor (se aqui estivesse ria-se!) mas encantava as pessoas, envolvendo-as nas suas cantorias como numa espécie de conversa que nunca interrompia. Passava-nos a sua visão do Mundo através de afectos, sorrisos, conversas calorosas, do teatro, no PCP, e também através das canções que cantava em todo o lado e em muitos momentos. Isso e o seu despojamento em relação aos símbolos de consumo, valeram-lhe uma alcunha carinhosa entre alunos de Montemor - Cigano Cantor

Perdi um amigo, perdi um camarada, perdi um companheiro de andanças de quase uma vida! O Mundo, Évora, a Escola, todos nós perdemos uma grande referência de liberdade e de dignidade. O meu Camarada Pedro Palma morreu!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Vivemos um estado de esquizofrenia colectiva

O mundo virtual da especulação financeira materializa-se nas nossas vidas através da total dependência da Europa ao império americano. As agências americanas, que cotam o alegado risco das dívidas dos países, determinam as políticas económicas e fiscais dos governos. Este é o campo da especulação mais selvagem para a qual a economia real é moldada pela indução de factores psicológicos. Isto pode significar que, por exemplo, a taxa de juro que um país paga pelo endividamento externo do estado e das empresas pode subir ou descer em função da avaliação que as famigeradas agências de rating fazem, a cada momento, do exercício político dos governos. Assim um aperto de mão entre um primeiro ministro e o líder da oposição pode valer uma descida brutal do serviço da dívida. Isso só acontece se o aperto de mão selar um compromisso de aprovação de medidas que estrangulem o poder de compra dos trabalhadores como por exemplo o aumento de impostos ou a redução da massa salarial através da taxação extraordinária do subsídio de férias e/ou de natal ou a redução das comparticipações do estado nos medicamentos e assitência na saúde. Quando é que acordamos todos e percebemos que isto não tem que ser assim! Tudo isto são convenções de suporte à exploração desenfreada do trabalho e à maximização brutal do lucro.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Há alguns dias que, em certos meios da cidade, não se fala de outra coisa

A possibilidade de vir a encerrar o Centro de Artes Tradicionais tem gerado inúmeras conversas, solidariedades e tomadas de posição.
Tudo isto começou com a apresentação em reunião pública de câmara, de uma minuta de protocolo para a criação de um museu de design.
Trata-se de um acordo tripartido entre um coleccionador privado, a Câmara Municipal e a Entidade Regional de Turismo, que prevê a utilização do espaço onde hoje existe o Centro de Artes Tradicionais para a instalação do dito museu do design.
Aquando da discussão do conteúdo do protocolo, foram colocadas pelos vereadores da CDU várias questões, cujas respostas não considerámos satisfatórias.
Tratando-se de um protocolo em que o Município assume a totalidade da logística, a adaptação do espaço, e os meios humanos necessários ao seu funcionamento, seria natural que junto do mesmo fosse apresentada um estudo que nos esclarecesse qual o valor em causa. Tal não aconteceu e nem em reunião de câmara a vereadora do pelouro ou o presidente foram capazes de dizer com clareza quais os custos para o município da instalação daquela colecção privada.
Previa o tal protocolo a manutenção deste apoio por parte do município até que o referido museu atingisse a auto-sustentabilidade, o que, segundo previsão da responsável do pelouro, aconteceria ao fim de dez anos.
Como o protocolo tem a validade de 10 anos, facilmente se conclui que o apoio se manteria durante toda a sua vigência.
Entendemos que tal distribuição de encargos e benefícios se manifestava lesiva do interesse público.
Nada me move contra a instalação de uma exposição permanente de peças de design industrial na nossa cidade, nem contra o proprietário do acervo a expor. Entendo até que a diversificação da oferta, com a instalação desta exposição permanente, constitui uma mais-valia para o concelho.
O que já não me parece razoável é que essa instalação se faça num espaço onde existe um Centro de Artes Tradicionais e em sua substituição.
Surgem agora argumentos que vão no sentido de nos tentarem convencer que as duas realidades podem coexistir naquele espaço.
Dando de barato a questão do enquadramento das Artes Tradicionais com o Design Industrial, num mesmo espaço, que nos parece francamente improvável e indesejável, basta uma leitura atenta da minuta do protocolo para se perceber que não existe uma única referência à manutenção do que constitui hoje o acervo do Centro de Artes Tradicionais.
Dois aspectos me parecem perfeitamente claros neste processo: por um lado uma desequilibrada distribuição de benefícios e encargos pelos parceiros, ficando, na prática, o município a sustentar a exibição de uma colecção privada de peças de Design Industrial, por outro lado a morte não anunciada de um espaço museológico dedicado às artes tradicionais que a acontecer será um verdadeiro crime de lesa cultura.
Por estas duas razões, eu e os meus companheiros eleitos pela CDU na Câmara Municipal votámos contra a assinatura daquele protocolo.
Lamentavelmente a maioria PS/PSD teve o entendimento contrário. Se existir bom senso ainda vão a tempo de voltar atrás e propor um novo protocolo, mais equilibrado e instalando a colecção de peças de design num outro espaço.
Bem sei que estou a pedir um milagre, mas como hoje é 13 de Maio…
Até para a semana

Eduardo Luciano
13 de Maio DianaFm

domingo, 2 de maio de 2010

lutar pela liberdade


Nos dias que correm somos cada vez mais reféns das teias de isolamento que asfixiam a sociedade global e que determinam o individualismo como marca mais profunda do homo simbolicus/semioticus. A fragmentação de saberes e a proliferação de signos que se explicam entre si são a essência da alienação. Ouvimos e lemos o que alguns, poucos, entendem que deve ser a história única do mundo, da Europa, da nossa cidade. As centrais de informação, peças tutelares do establishment criam os paradigmas a que devemos aderir e os tabus que nos limitam o pensamento. A luta pela Liberdade não é a ficção romântica daqueles que fizeram as revoluções do passado, o 25 de Abril em Portugal ou a luta contra a ocupação dos seu território, como os Saharauis. A luta pela liberdade, hoje, é um imperativo nas sociedades ocidentais, na Europa, e aqui ao pé da nossa porta, em Évora. A luta pela Liberdade hoje é a luta pela democratização dos saberes, pela democratização da cultura, pela comunicação como processo social de participação cidadã. Podemos e devemos ter um papel colectivo nesse processo !

mai 68 l'esprit de mai

As imagens, os sons, as cores, os ideais de maio de 68 estão hoje mais actuais que nunca. Tal como em Abril de 74 só nos resta lutar na rua pela defesa da liberdade e de todos os direitos que atenuaram a precarização do trabalho face ao capital e nos devolveram uma cidadania com dignidade. É tudo isso que está em risco em Portugal e nesta Europa onde os governos são meros instrumentos do grande capital transnacional e a crise, provocada pela especulação financeira, gerou uma total dependência ao império americano através das suas agências de rating, do seu fmi e de toda a panóplia de intrumentos de especulação que suportam o dolar como equivalente mundial de trocas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Público - Alumínio, lucros, política e claustrofobia na água de Évora



Raquel e Sandra deslizam no gelo. A pista de patinagem foi instalada numa tenda no meio da Praça do Giraldo, apesar do frio que faz em Évora. Não há muita gente no ringue. É fim-de-semana e as pessoas preferem fechar-se em casa. Mas as duas raparigas têm vontade de se divertir. Já caíram várias vezes, têm a roupa toda molhada.
“Se houvesse um centro comercial, não vínhamos para aqui de certeza”, diz Sandra, de 16 anos. “Em Évora não há nada para fazer. Não há concertos, não há bares giros, não há um cinema.” Raquel, 17 anos, aproxima-se a velocidade exagerada. Choca com a amiga.

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Texto Paulo Moura, Foto Enric Vives-Rubio

in PÚBLICA, 17 Janeiro 2010 (link para maisevora.blogspot.com)