quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Não, não é possível! Ou será?


Jorge de Burgos, monge cego e bibliotecário da obra de Umberto Eco “O Nome da Rosa”, é a sétima vítima de … si próprio. Nesta muito mais que história quase policial Eco atravessa simbolicamente 7 mortes que ocorrem numa abadia da idade média com uma sequência análoga ao profetizado como o fim dos tempo pelas 7 trompetas do Apocalipse. Nesse tempo a apologia do riso supostamente consignada no II livro da Poética de Aristóteles, confundia-se com a liberdade de acesso ao saber e com uma pré-teologia da libertação, do despojamento da riqueza e da separação dos poderes do estado e da igreja e opunha-se ao nominalismo sectário e à acção inquisitorial de uma Igreja Faustosa, herdeira da chamada doação de Constantino. O labirinto/biblioteca que esmagava o saber não era apenas nominal, traduzia o enleio da existência real. Em “O Nome da Rosa” estávamos em plena Idade média, tempo de existência fatal e cruel marcado pela acção inquisitorial dessa Igreja de João XXII com origem conceptual na bula Unam Sanctam de Bonifácio VIII. A esse mundo fatal opunha-se o optimismo de Marsílio de Pádua partidário do Imperador Luís II da Baviera na contenda entre este e o papa João XXII.

A dialéctica que opõe fatalismo e optimismo atravessa os tempos e exprime, de um ponto de vista simbólico, a relação entre as forças centrípeta e centrífuga, entre o estabelecido e o desconhecido, entre o medo e a coragem, entre o imobilismo e a dinâmica.

No mundo de hoje a reprodução dos medos faz-se à velocidade vertiginosa como tudo acontece. O sistema permanece, resiste à mudança vencendo e absorvendo relações sociais dialécticas pela estimulação individual dos medos, pela imposição da pretensa fatalidade Apocalíptica do capitalismo ser o fim dos tempos. Atrás destes tempos desenha-se a incerteza do desconhecido, o medo do abismo, a insegurança da desordem a fatalidade do caos.

O culto do não, não é possível assenta, ainda que intimamente, no conforto da certeza minimal da nossa própria defesa contra a frustração do arriscar no sonho da mudança.

Assim vamos caminhando de recuo em recuo para posições firmes, com os pés bem assentes na terra. Quando confrontados com uma onda de optimismo, desconfiamos, recuamos, tentamos segurar-nos às amuradas dos nossos medos do insucesso, da nossa angústia da incerteza da vitória. No contexto da não vitória impera a ordem, a regra, o tempo que parece imutável. Qualquer pequeno avanço que ocorra por um qualquer imponderável sócio-histórico-político, transcenderá largamente as nossas expectativas e traduzir-se-á numa estrondosa vitória.

Tudo isto a propósito de tudo e nada, da vida e da existência(zinha) e, afinal de contas, de Évora e do Alentejo.




2 comentários:

Anónimo disse...

Já te disse antes, reafirmo hoje ...
Como é bom ter amigos com espirito possitivo, daqueles que caiem e se levantm logo de seguida. Sei que não é facil mas quando tal acontecer não te esqueças que existem outras mãos prontas para ajudar.
Já agora... obrigado à referencia a este filme, um dos que mais gostei naquela epoca. Vou voltar a ve-lo.
bjs
Lurdes

Anónimo disse...

CAFACAFA tem razao