domingo, 22 de novembro de 2009

Ao Mário

"Amigo deixo aqui as minhas memorias para que se não pense que a cultura é só um divertimento gastador de dinheiro, como nos querem fazer querer nestes tempos de "cultura dos morangos ou de espectaculos de Arena".


Logo após o 25 de Abril, e a descentralização do teatro e a consequente criação do Centro Cultural de Évora, da qual faziam parte um leque incrível de actores como o Paços, a Teresa e o Mário entre outros, eu uma criança de 8 anos fui levada ao teatro pela minha professora de teatro D. Arlete.

A primeira peça da Companhia de Teatro Profissional de Évora, era um luxo para mim, para os meus colegas e para a cidade.


Entrei nesse dia pela primeira vez no teatro Garcia de Resende, então muito mal tratado e a necessitar de muitas obras. A peça penso que o “28 de Setembro” era forte, tinha muito texto e perdoem-me os actores não me lembro de quase nada mas a figura daquele homem imenso, de voz rouca e grossa, com gestos forte e precisos, ficou na minha memoria até hoje.


Posso ainda agora fechar os olhos e vê-lo no palco a representar para um bando de miúdos, como se fossem o publico mais entendido do mundo.


Esta foi a minha primeira imagem de Mário Barradas, depois outras se seguiram no palco ou um pouco por toda a cidade, mas esta sempre se sobrepôs.


Talvez por isso eu me tenha apaixonado por esta nobre arte, talvez por isso eu tenha ido para a biblioteca pública ler outras peças de teatro, talvez por isso eu tenha enveredado pelo mundo das artes em geral.


E talvez por isso defenda hoje que a arte não necessita de ser simples ou primaria para que o publico a entenda, tem sim de ser honesta e clara.


Ao Mário devo isto como pessoa, já como eborense devo-lhe, eu e todos nós, muito mais, mas essa divida ficará por pagar, quem sabe um dia!"

Lurdes

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