segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Refúgio Aboim Ascenção - Pelo Direito a um Colo

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A caravana pela felicidade teve como objectivo principal o Refúgio Aboim Ascenção. Este nome soava-me, lembrava-me um psicólogo vestido de preto, que raras vezes vi na televisão a comentar casos ligados a abandono de crianças. Esse homem fala com uma linguagem clara, diz o que pensa por isso passa a imagem, incómoda para o stablishment, de um profundo inconformismo. Refiro-me a Luís Villas Boas, psicólogo, ex Coronel de cavalaria, e combatente, quase guerrilheiro, pela felicidade de crianças abandonadas ou vítimas de maus-tratos. A luta diária travada por Luís Villas Boas e uma equipa imensa de gente, com formações diversas, faz-se pelo direito que cada criança tem a um Colo. Este direito foi e é o paradigma do Refúgio Aboim Ascensão. Moral e juridicamente estamos de acordo, as crianças têm direito à alimentação, a um tecto, à educação e genericamente aos afectos dos pais. E quando não têm pais e quando os pais as abandonam ou as maltratam? No Refúgio Aboim Ascenção essas crianças encontram um Colo. E encontram uma equipa de gente que, nas mais variadas áreas, luta para esse direito determinar um caminho e traduzir-se numa vida feliz. A batalha tem muitas frentes, a jurídica, a institucional, a emocional mas a equipa do refúgio é uma equipa ganhadora.
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Luís Villas Boas ao longo das 2 horas de visita guiada desafiou-nos, fez-nos rir mas também fez-nos vir as lágrimas aos olhos. Disse-nos mais do que uma vez: “quando saírem daqui não vão ser capazes de contar o que viram.”
Eu já repeti a estória da visita 4 vezes, primeiro à Elisabete, depois a vários grupos de amigos. A estória convence toda a gente mas as emoções que emergem de um humanismo arrebatador, de uma consciência que está bem para lá dos processos funcionais e das estruturas que atravessa, essas, são vividas diariamente no Refúgio Aboim Ascensão e nós, grupo de motoqueiros imbuídos do espírito natalício, tivemos o enorme privilégio de as viver em duas horas de contacto com aquelas crianças e aquela equipa.DSC02221
O Refúgio acolhe crianças até aos 6 anos, tem muitas dezenas de Bebés, e trava uma batalha diária pela adopção dessas crianças. Para corresponder ao desafio do Luís Villas Boas eu diria que o refúgio é um espaço de esquecimento e esperança. Esquecimento dos maus tratos, dos momentos terríveis do abandono, das violações. Esperança numa nova família adoptiva, numa nova matriz humana de afectos. Tudo isto se inicia activamente no refúgio. O Refúgio é um espaço de habilitação à vida. Todas as salas, todos os rostos de adultos e de crianças transpiram uma felicidade contagiante. Ali os bocadinhos estilhaçados do puzzle de cada vida são reagrupados e assim produzem-se novas VIDAS. Aquela gente sabe que as crianças merecem tudo, aquela gente conhece profundamente os legítimos interesses de cada criança, aquela gente propicia aquelas crianças terapias e cuidados ao nível do que de melhor se faz no Mundo. Isto não se explica, vivência-se numa visita ao Refúgio Aboim Ascenção.

O tempo de permanência no refúgio, de cada criança, não deve ultrapassar os 18 meses, é importante não criar laços, é importante que cada criança sonhe com a sua nova família e a reencontre rapidamente - o estado, a segurança social, os tribunais dificilmente acompanham esta necessidade. Os tempos de trabalho desses técnicos todos esgotam-se entre as 9 h e as 17 h. No refúgio vivem crianças que necessitam de … colo das 9 h às 21 h e das 21 h às 9 h.
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Quanto aos laços quando perguntei ao Luís Villas Boas se esse período curto de 18 meses não sobrava para criar laços para toda a vida entre os adultos que ali trabalham e as crianças respondeu-me: quando cada criança sai elas (as técnicas) choram como madalenas. Nesse momento fiquei convencido que o mesmo se passava com o Senhor Coronel. Perdão: Um Coronel não chora como uma madalena, um Coronel chora como um HOMEM.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Onde estão os homens?"

" - Onde estão os homens? - acabou finalmente por perguntar o principezinho. - No deserto está-se um bocado sozinho...

- Também se está sozinho ao pé dos homens - disse a serpente."

" O Principezinho" - St.Exupery

1959; Declaração Universal dos Direitos da criança, rege-se por quatro principios gerais, a não discriminação,o interesse da criança, o direito à vida, à sua sobrevivência e desenvolvimento, o respeito à opinião (conceito que a define como um ser diferente do adulto e não como um "adulto menor".
O facto è que o desrespeito a esses princípios têm correspondência directa com a pobreza e cultura do país.E isso não se muda só com convenções.
Cabe-nos a nós todos fazer o que estiver ao nosso alcance para mudar,fazer a diferença...
Um olhar carinhoso e um simples sorriso caloroso fazem milagres e uma grande dádiva para quem os recebe.
É bom lembrar uma frase sábia: "Para começar uma viagem de mil milhas, basta dar um primeiro passo".
Obrigada a todos os Homens e Mulheres que se envolveram nesta "viagem", distribuindo sorrisos e aquecendo o coração de um Sr. Coronel.
Toia Castelos