Quando nos chegaram as primeiras informações da recém criada linha marítima para o funchal com um ferry, de seu nome volcán de tijarafe, rimo-nos da ideia: Ir à madeira de mota? Não! Nem pensar! A figura ridícula, um tanto boçal, do presidente do governo regional atravessava, por essa altura, a estranha possibilidade de ir à madeira … de mota. No entanto e apesar do alberto joão e da sua carga hegemónica, a ideia tinha qualquer coisa que a empurrava para fora do patamar das ideias parvas que importunam os espíritos, mesmo os mais esclarecidos e distintos. Eu tinha estado na madeira em 1976. Lembrava-me de um território muito verde, com bananeiras, que nunca tinha visto, e com poucos centímetros quadrados por cultivar. Ficaram-me na memória imagens de pessoas a trabalhar em socalcos onde algumas cabras do continente provavelmente teriam receio de pôr as patas.
Esse estranho e inexplicável efeito de empurrar uma ideia de um patamar para outro deve encontrar, no mínimo, um sentido no acaso e, às vezes, no absurdo. Foi portanto por acaso que fiz uma simulação na net do custo da hipótese absurda de viajar de mota para a madeira. A coisa começava a ganhar contornos de verosimilhança. O vil metal afinal determina tudo, ou quase tudo, e os 450€ significavam uma redução para metade do custo de um outro projecto de viagem que pairava lá por casa nesse tempo. Eu, que sou militante das ideias, vi-me confrontado, não pela primeira mas certamente pela enésima vez, com um determinismo do material sobre o imaginário. É barato, que se lixe o jardim! Vamos à madeira … de mota!
A véspera, com o sentido simbólico que já perceberam que esta não teve, teria acontecido se não fosse brutalmente atropelada pela caravana do rally vinho da madeira. O barco, ou navio para os entendidos, parte regularmente de Portimão aos domingos às 12.00h. O único domingo em que isso não aconteceu foi exactamente aquele em que estes vossos amigos escolheram viajar. O acordo com a organização do rally fez com que a partida desse domingo fosse agendada para as 21.30h e realizada às 22.30h. Neste momento a voz da musa sobrepõe-se aos meus pensamentos dizendo insistentemente: não podes pôr na narrativa tantos pormenores porque depois isso é chato para os leitores. Ela tem razão por isso passarei à narração da estória sem mais floreados.
Depois andámos por ali até que chegou, majestoso, o volcán de tijarafe. Já lá dentro, a olhar para uma coluna e para a burgman lembrei-me do aires pereira e da conversa no lunetas. Tinha-me esquecido de levar uma cinta para atar a mota. Com corda e uns trapos para proteger a pintura um companheiro lá do barco resolveu a coisa com engenho.
No átrio estavam uns engravatados de copo na mão numa qualquer vernissage. Atravessámos o espaço com as malas da mota, as mochilas e o aspecto que imaginam e ouvimos: estes devem ser da comunicação social! Rimos e enfiámo-nos num duche rápido para conseguir chegar a horas ao jantar que tínhamos marcado com a susana e o nuno que estavam na sua última noite de madeira. Conseguimos chegar junto à sé com meia hora de atraso. Jantámos na parte antiga da cidade num bom sítio, que eles escolheram, umas óptimas espetadas em pau de loureiro com banana frita. A noite acabou na esplanada do bar do museu com um, só um, jameson - para mim, para os outros não digo, não sou nenhum delator - e com muita e boa conversa sobre tudo, a madeira e os madeirenses e a arquitectura fantástica da casa das mudas na ribeira brava.
Durante o primeiro dia andámos pelo funchal e subimos ao monte. O funchal é uma cidade bonita.
Estende-se ao longo de uma baía, a cidade antiga de uma ponta funde-se com a cidade recente e a zona balnear do lido na outra ponta, para lá do porto comercial. Para terra espraia-se pelo vale num povoamento disperso que marca o urbanismo de toda a ilha, com maior incidência do lado sul. O lado norte é mais selvagem e com aglomerados urbanos um pouco menos dispersos.
A subida para o monte, pelos caminhos que percorri, foi possível na burgman mas, certamente, teria sido muito difícil e arriscada, na goldwing.
No monte os carreteiros passeiam turistas numa descida com uma enorme inclinação. Correm atrás, sustendo, a força de braços, os carros de vime que transportam duas pessoas, numa desvairada corrida monte abaixo. Fiz essa descida há 32 anos e fiquei com a impressão que um ser humano não tem o direito de se servir da força física de outro assim, mesmo pagando muito dinheiro.
Berardo vai plantando arte por todo o lado. No jardim tropical monte palace os critérios estéticos são muito difusos. A entrada custa 10€ para percorrer um exuberante jardim onde arte africana se mistura com arte oriental e painéis contemporâneos que relatam a história de portugal. À saída do parque comemos bolo do caco com manteiga de alho num sítio com ar de tasca improvisada de feira, explorado pelos carreteiros, com uma vista soberba sobre o porto do funchal. 
Monte abaixo, monte acima atravessámos a ilha para norte e fomos ter a santana. Curvas e mais curvas, em gancho, a subir, a descer, com inclinações que excedem, por vezes, os 15%, são as características das estradinhas bordejadas de verde e flores, lindíssimas!
Monte abaixo, monte acima atravessámos a ilha para norte e fomos ter a santana. Curvas e mais curvas, em gancho, a subir, a descer, com inclinações que excedem, por vezes, os 15%, são as características das estradinhas bordejadas de verde e flores, lindíssimas!
Descemos para voltar a subir e logo descer, e sempre o verde e as flores e quando paramos num miradouro logo aparecem, como que a dar-nos as boas vindas, as lagartixas que parecem que nos esperam e por nosso intermédio uma ou outra migalha de alguma coisa comestível.
Estavam esgotados os 3 primeiros dias. Ainda havia muita ilha para ver, muitos trilhos a percorrer. A burgman, neste sobe e desce permanente de cerca de 700 km e nos 500 km de évora-portimão-évora, nestes últimos com as malas, fez um óptimo consumo global de 5.9 l/100 km.
Estavam esgotados os 3 primeiros dias. Ainda havia muita ilha para ver, muitos trilhos a percorrer. A burgman, neste sobe e desce permanente de cerca de 700 km e nos 500 km de évora-portimão-évora, nestes últimos com as malas, fez um óptimo consumo global de 5.9 l/100 km.